domingo, 29 de junho de 2008

2º Colegial - Poesias realistas e impressionistas

COLÉGIO INTERATIVO
LITERATURA
ENSINO MÉDIO
PROFESSORA DANIELLE MEDICI
n Poesias do Século XIX:
n Poesia Realista:
Antero de Quental
n Poesia Impressionista:
Cesário Verde
COLÉGIO INTERATIVO
ANTERO DE QUENTAL
n FASES:
n 1ª fase: temática religiosa;
n 2ª fase: adesão às idéias de justiça social, igualdade e dignidade humana;
n 3ª fase: poesia dilemática, angustiada e pessimista.

TORMENTO DO IDEAL

Conheci a Beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,

Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr do sol e sobre o mar discorre.

Pedindo à forma, em vão, a idéia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.

Recebi o batismo dos poetas,
E assentado entre as formas incompletas,
Para sempre fiquei pálido e triste.

COLÉGIO INTERATIVO
n Vida Cesário Verde nasceu e morreu em boa (1855-1886). Tentou fazer curso superior já tardiamente não tendo conseguido. Foi comerciante antes e depois dessa tentativa, não conseguindo, portanto, intelectualizar-se. A tuberculose levou dois irmãos seus à morte, como a ele próprio, algum tempo depois. II. Obra Cesário Verde é ousadamente inovador. Essa ousadia decorre do fato de ele ter colocado em seus poemas a visão prática do mundo adquirida no dia-a-dia de seu trabalho no comércio. Por isso, em seus versos desfilam situações e coisas do quotidiano mais prosaico, bem como barbeiros, operários, floristas, coveiros, cidadãos comuns sobretudo, o povo. Está presente também a vida noturna lisbonense, iluminada a gás, seus teatros e bares e os odores e as alterações por que a cidade vai passando; aliás, seus poemas medem o pulsar físico e emocional da cidade. A poesia de Cesário Verde é distante do tom social predominante nos outros poetas. Para alguns, no máximo, ele teria feito lirismo realista. Seu único livro foi publicado postumamente. Em vida, o poeta não teve reconhecimento. Livro O livro de Cesário Verde
COLÉGIO INTERATIVO
Realismo / Naturalismo :
- C.V é considerado um "lírico realista" poeta do quotidiano, Um citadino e burguês. Torna-se realista pois tem uma visão critica de sociedade. Aproxima-se do naturalismo pela pretensão, objectividade e pela fidelidade à "estética do positivismo e do sincero"; utilizando um vocabulário cheio de termos concretos, alguns técnicos e científicos outros da linguagem familiar.
- Utiliza abundamente a adjectivação.
Impressionismo:
- Demonstra a 1ª visão impressionista da realidade; baseia-se na sensação.
- Por um lado na sua poesia tudo é exacto, sólido, fixo, estável nítido e preciso por outro lado é vago e indefinível ( impressionismo ).
- Esta contradição entre o impressionismo e o "desenho do compasso e esquadro" explica-se pois, por um lado estava influenciado pelo materialismo concreto, que em arte daria o naturalismo, por outro lado, a sua sensibilidade pressentia já todo o anti-naturalismo de que o impressionismo é expoente.
- Parnasianismo:
Para os parnasianistas a perfeição artística é um fim a atingir, pelo que a linguagem deve primar, pela nitidez pela musicalidade e pela visão plastina.

domingo, 22 de junho de 2008

2 Colegial - Parnasianismo no Brasil

O movimento parnasiano teve grande importância no Brasil, não apenas pelo elevado número de poetas, mas também pela extensão de sua influência. Seus princípios doutrinários dominaram por muito tempo a vida literária do país. Na década de 1870, a poesia romântica deu mostras de cansaço, e mesmo em Castro Alves é possível apontar elementos precursores de uma poesia realista. Assim, entre 1870 e 1880 assistiu-se no Brasil à liquidação do romantismo, submetido a uma crítica severa por parte das gerações emergentes, insatisfeitas com sua estética e em busca de novas formas de arte, inspiradas nos ideais positivistas e realistas do momento. Dessa maneira, a década de 1880 abriu-se para a poesia científica, a socialista e a realista, primeiras manifestações da reforma que acabou por se canalizar para o parnasianismo. As influências iniciais foram Gonçalves Crespo e Artur de Oliveira, este o principal propagandista do movimento a partir de 1877, quando chegou de uma estada em Paris. O parnasianismo surgiu timidamente no Brasil nos versos de Luís Guimarães Júnior (1880; Sonetos e rimas) e Teófilo Dias (1882; Fanfarras), e firmou-se definitivamente com Raimundo Correia (1883; Sinfonias), Alberto de Oliveira (Meridionais) e Olavo Bilac (1888; Poesias). O parnasianismo brasileiro, a despeito da grande influência que recebeu do parnasianismo francês, não é uma exata reprodução dele, pois não obedece à mesma preocupação de objetividade, de cientificismo e de descrições realistas. Foge do sentimentalismo romântico, mas não exclui o subjetivismo. Sua preferência dominante é pelo verso alexandrino de tipo francês, com rimas ricas, e pelas formas fixas, em especial o soneto. Quanto ao assunto, caracteriza-se pelo realismo, o universalismo e o esteticismo. Este último exige uma forma perfeita quanto à construção e à sintaxe. Os poetas parnasianos vêem o homem preso à matéria, sem possibilidade de libertar-se do determinismo, e tendem então para o pessimismo ou para o sensualismo. Além de Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, que configuraram a trindade parnasiana, o movimento teve outros grandes poetas no Brasil, como Vicente de Carvalho, Machado de Assis, Luís Delfino, Bernardino da Costa Lopes, Francisca Júlia, Guimarães Passos, Carlos Magalhães de Azeredo, Goulart de Andrade, Artur Azevedo, Adelino Fontoura, Emílio de Meneses, Augusto de Lima e Luís Murat. A partir de 1890, o simbolismo começou a superar o parnasianismo. O realismo classicizante do parnasianismo teve grande aceitação no Brasil, graças certamente à facilidade oferecida por sua poética, mais de técnica e forma que de inspiração e essência. Assim, ele foi muito além de seus limites cronológicos e se manteve paralelo ao simbolismo e mesmo ao modernismo. O prestígio dos poetas parnasianos, ao final do século XIX, fez de seu movimento a escola oficial das letras no país durante muito tempo. Os próprios poetas simbolistas foram excluídos da Academia Brasileira de Letras, quando esta se constituiu, em 1896. Em contato com o simbolismo, o parnasianismo deu lugar, nas duas primeiras décadas do século XX, a uma poesia sincretista e de transição.

2 Colegial - Parnasianismo

Uma das maiores preocupações na composição poética dos parnasianos era a precisão das palavras. Esses poetas chegaram ao ponto de criar verdadeiras línguas artificiais para obter o vocabulário adequado ao tema de cada poema. Movimento literário surgido na França em meados do século XIX, em oposição ao romantismo, o parnasianismo representou na poesia o espírito positivista e científico da época, correspondente ao realismo e ao naturalismo na prosa. O termo parnasianismo deriva de uma antologia, Le Parnasse contemporain (O Parnaso contemporâneo), publicada em fascículos, de março a junho de 1860, com os versos dos poetas Théophile Gautier, Théodore de Banville, Leconte de Lisle, Charles Baudelaire, Paul Verlaine, Stéphane Mallarmé, François Coppée, o cubano de expressão francesa José Maria de Heredia e Catulle Mendès, editor da revista. O Parnaso é um monte da Grécia central onde na antiguidade acreditava-se que habitariam o deus Apolo e as musas. Antecedentes A partir de 1830, alguns poetas românticos se agruparam em torno de certas idéias estéticas, entre as quais a da arte pela arte, originária daquele movimento. Duas tendências se defrontavam: a intimista (subjetiva) e a pitoresca (objetiva). O romantismo triunfara em 1830, e de Victor Hugo provinham as grandes fontes poéticas, mas o lirismo intimista não mais atraía os jovens poetas e escritores, que buscavam outros objetos além do eu. A doutrina da arte pela arte encontrou seu apóstolo em Gautier, que foi o pioneiro do parnasianismo. Nos prefácios de dois livros, Poésies (1832) e Jeune France (1833; Jovem França), Gautier expôs o código de princípios segundo o qual a arte não existe para a humanidade, para a sociedade ou para a moral, mas para si mesma. Ele aplicou essa teoria ao romance Mademoiselle de Maupin (1836), que provocou acirradas polêmicas nos círculos literários por desprezar a moral convencional e enfatizar a soberania da beleza. Mais tarde publicou Emaux et camées (1852; Esmaltes e camafeus), que serviu de ponto de partida para outros escritores de apurado senso estético, como Banville e Leconte. Este último publicou, em 1852, os Poèmes antiques (Poemas antigos), livro em que reuniu todos os elementos formais e temáticos da nova escola. Ao lado de Poèmes barbares (1862; Poemas bárbaros), essa obra deu ao autor um imenso prestígio e a liderança do movimento, de 1865 a 1895. Em torno dele reuniram-se Mendès, Sully Prudhomme, Heredia, Verlaine e Coppée. Outros precursores, como Banville e Baudelaire, pregaram o culto da arte da versificação e da perfeição clássica. À época, eram muito valorizados e vistos com curiosidade os estudos arqueológicos e filológicos, a mitologia, as religiões primitivas e as línguas mortas. Os dois livros de Leconte iniciaram uma corrente pagã de poesia, inspirada nesses estudos orientais, místicos, primitivos, "bárbaros", no sentido de estranhos ao helenismo, que ele procurava ressuscitar com traduções de Homero. Características O movimento estendeu-se por aproximadamente quatro décadas, sem que se possa indicar limite preciso entre ele e o romantismo, de um lado, e o simbolismo, do outro. Uma de suas linhas de força, o culto da beleza, uniu parnasianos e simbolistas. No entanto, pode-se distinguir alguns traços peculiares a cada movimento: a poesia parnasiana é objetiva, impessoal, contida, e nisso se opõe à poesia romântica. Limita-se às descrições da natureza, de maneira estática e impassível, freqüentemente com elemento exótico, evocações históricas e arqueológicas, teorias filosóficas pessimistas e positivistas. Seus princípios básicos resumem-se nos seguintes: o poeta não deve expor o próprio eu, nem fiar-se da inspiração; as liberdades técnicas são proibidas; o ritmo é da maior importância; a forma deve ser trabalhada com rigor; a antigüidade grega ou oriental fornece modelos de beleza impassível; a ciência, guiada pela razão, abre à imaginação um vasto campo, superior ao dos sentimentos; a poesia deve ser descritiva, com exatidão e economia de imagens e metáforas, em forma clássica e perfeita. Dessa maneira, o parnasianismo retomou as regras neoclássicas introduzidas por François de Malherbe, poeta e teórico francês que no início do século XVII preconizou a forma estrita e contida e acentuou o predomínio da técnica sobre a inspiração. Dessa forma, o parnasianismo foi herdeiro do neoclassicismo, do qual se fez imitador. Seu amor ao pitoresco, ao colorido, ao típico, estabelece a diferença entre os dois estilos e o torna um movimento representativo do século XIX. A evolução da poesia parnasiana descreveu, resumidamente, um percurso que se iniciou no romantismo, em 1830, com Gautier; conquistou com Banville a inspiração antiga; atingiu a plenitude com Leconte de Lisle; e chegou à perfeição com Heredia em Les Trophées (1893; Os troféus). Heredia, que chamou a França de "pátria de meu coração e mente", foi um brilhante mestre do soneto e grande amigo de Leconte de Lisle. Ele reuniu as duas tendências principais do parnasianismo -- a inspiração épica e o amor à arte-- e procurou sintetizar quadros históricos em sonetos perfeitos, com rimas ricas e raras. Heredia foi a expressão derradeira do movimento, e sua importância é fundamental na história da poesia moderna. O parnasianismo foi substituído mas não destruído pelo simbolismo. A maioria dos poetas simbolistas na verdade começou fazendo versos parnasianos. Fato dos mais curiosos na história da poesia foi Le Parnasse contemporain ter servido de ponto de partida tanto do parnasianismo quanto do simbolismo, ao reunir poetas de ambas as escolas, como Gautier e Leconte, Baudelaire e Mallarmé. Da França, o parnasianismo difundiu-se especialmente pelos países de línguas românicas. Em Portugal, seus expoentes foram Gonçalves Crespo, João Penha e Antônio Feijó. O movimento alcançou êxito principalmente na América espanhola, com o nicaragüense Rubén Darío, o argentino Leopoldo Lugones, o peruano Santos Chocano, o colombiano Guillermo Valencia e o uruguaio Herrera y Reissig.

3 Colegial - O Burrinho Pedrês

COLÉGIO INTERATIVO
LITERATURA
ENSINO MÉDIO
PROFESSORA DANIELLE MEDICI
COLÉGIO INTERATIVO
n O burrinho pedrês (Conto de Sagarana), de Guimarães Rosa

n Análise da obraConto narrado em 3ª pessoa. A onisciência do narrador é propositalmente relativizada, dando voz própria e encantamento às narrativas e acentuando sua dimensão mítica e poética. Em O burrinho pedrês, primeiro dos nove contos, Guimarães procura mostrar, tendo como pano de fundo o mundo dos vaqueiros, que todos têm a sua hora e sua vez de ser útil. É o caso do burrinho Sete-de-Ouros: a gente segue a esperteza mansa do bicho, a sua finura de instinto e inteligência que o faz poupar-se, furtar-se a choques e maus pisos e, por fim, orientar-se e salvar-se numa cheia onde os cavalos afogam, carregando um bêbado às costas e ainda outro náufrago enclavinhado no rabo - ressalta Oscar Lopes.

n O burrinho pedrês é uma estória que metaforiza a experiência da velhice, um burrinho experiente sabe se orientar onde cavalos de boa montaria sucumbem.Neste conto, assim como em Conversa de bois e em A volta do marido pródigo, os animais se transformam em heróis, questionando o saber dos homens com o seu suposto não saber.A ironia do escritor vale-se do decadente burrinho para pôr a nu a onipotência presunçosa do homem, que julga controlar o próprio destino, ignorando as inesperadas surpresas que este lhe reserva. A perspectiva místico-religiosa, a luta entre o bem e o mal, os riscos morais que acompanham o homem no perigoso ofício de viver, são os temas preponderantes que alimentam a ficção.

n Em Sagarana renasce o anônimo “contador de estórias”, o homem-coletivo que se enraíza nos rapsódias gregas e nas canções de gesta medievais. Desde o início do conto ("Era um burrinho pedrês...") esboça-se claramente a atitude ingênua e espontânea da “palavra lúdica”, que não aprisiona o falar nos limites rígidos do individualismo, mas se identifica com a palavra anônima e coletiva.

n Seja pela fórmula lingüística caracterizadora da narrativa elementar, da fábula, da lenda ("Era um burrinho..."), tempo e modo verbais que, de imediato, tiram à narrativa o caráter de coisa datada, para projetarem na esfera intemporal do universo de ficção; seja pela mescla de precisão e imprecisão documental no registro do espaço (vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no sertão); seja pela dimensão antropomórfica (forma humana) que é dada à personagem central, o “burrinho-gente”, e que situa a narrativa na fronteira entre o real e o mágico; seja pela funcionalidade das cantigas inseridas no fluxo narrativo, tudo isso e muito mais nos revela, no universo da palavra rosiana, a presença do “homo ludens” (homem lúdico), descompromissado com as estruturas convencionais do pensamento lógico.

n A trama desse conto, como nas demais narrativas de Guimarães Rosa, é relativamente simples. Publicado pela primeira vez em 1946, O burrinho pedrês é uma história sugerida por um acontecimento real, passado no interior de Minas Gerais, envolvendo um grupo de vaqueiros. É a história da condução de uma boiada em dia de fortes chuvas, em algum ponto indefinido do sertão, sob a tensão de uma maquinação ameaçadora de ciúme e crime. O seu desfecho, de todo surpreendente, só poderia ser ideado por um mestre da palavra e da criação literária. O foco da narrativa está centrado em um burrinho pedrês, que é testemunha de um trágico acidente. Em contraponto com a intriga que se desenvolve entre os boiadeiros, há episódios relacionados com o ciclo mítico do boi, onipresente na vida sertaneja. Pairando sobre tudo e todos, destaca-se a figura sábia e intensamente "humana" do burrinho pedrês, que aparece pouco na ação mas, como citado, domina o universo da narrativa.

n O cenário é a Fazenda da Tampa, do Major Saulo, no interior de Minas Gerais.O burrinho Sete-de-Ouros, protagonista da história, simboliza o peso da vida quando “Carregado de algodão”, o trabalho do burrinho, e metaforiza a carga dos homens, o peso do mundo, como fardos de algodão. “Preguntei: p’ra donde ia?” – a forma arcaica do verbo perguntar sugere a indagação permanente dos homens, sábios e filósofos: para quê?, por quê?, de onde?, para onde?. “P’ra rodar o mutirão” alude ao esforço coletivo, ao dever de solidariedade que o burrinho cumprirá na sua hora e na sua vez.

n Desde esse primeiro conto, estão presentes os elementos fundamentais para compreendermos os contos de Sagarana. O nome do burrinho, Sete-de-Ouros, é recoberto pela magia de um número místico (sete) e pela força simbólica do ouro, indicador de superação e de transcendência paralquimistas. A travessia, a superação de obstáculos por ocultos caminhos é uma imagem freqüente em Guimarães Rosa, como também a presença de forças mágicas, da natureza, atuando sobre o mundo e mostrando as possibilidades de os fracos se tornarem fortes, de se saber uma vida no resumo exemplar de apenas um dia.

n PersonagensSete-de-Ouros - animal miúdo e resignado, idoso, muito idoso, beiço inferior caído. Outros nomes que tivera ao longo de anos e amos: Brinquinho, Rolete, Chico-Chato e Capricho. Major Saulo - corpulento, quase obeso, olhos verdes. Só com o olhar mandava um boi bravo se ir de castigo. Estava sempre rindo: riso grosso, quando irado; riso fino, quando alegre; riso mudo, de normal. Não sabia ler nem escrever, mas cada ano ia ganhando mais dinheiro, comprando mais gado e terras. João Manico - vaqueiro pequeno que montou o burrinho Sete-de-Ouros na ida. Na volta, trocou de montaria. Na hora de entrar na água, refugou, alegando resfriado, e escapou da morte. Francolim - espécie de secretário do Major Saulo, encarregado de pôr ordem nos vaqueiros. Obedece cegamente às ordens do Major. Foi salvo, na noite da enchente, pelo burrinho Sete-de-Ouros. Raymundão - vaqueiro de confiança do Major Saulo. Enquanto tocam a boiada, vai contando a história do zebu Calundu. Zé Grande - vai à frente da boiada, tocando o berrante. Silvino - vaqueiro; perdeu a namorada para Badu e planejava matar o rival na volta, depois de deixarem a boiada no arraial.

n Resumo do conto Na Fazenda da Tampa, do Major Saulo, os homens estão ultimando os últimos preparativos para sair pelo sertão, tocando uma boiada de bois de corte. O dia é de chuva, mas ela ainda não veio. Major Saulo ordena que os homens preparem os animais. Por zebra, o burrinho Sete-de-Ouros, presente ali na varanda da casa grande, também é escolhido para a viagem. Para montá-lo, o Major escolheu o vaqueiro João Manico.Raymundão conta a história do touro Calundu. Não batia em gente a pé, mas gostava de correr atrás de cavaleiro. Certa vez, na proteção de um grupo de vacas com seus bezerros novinhos, Calundu enfrentou uma onça preta, amedrontando a fera e pondo-a para correr. Certa feita, o touro Calundu matou Vadico, filho do fazendeiro Neco Borges. O pai, vendo filho ensangüentado no chão, puxou o revólver para matar o touro. Vadico, antes de morrer, pediu que o pai não matasse Calundu. Neco Borges mandou o touro para outra fazenda para ser vendido ou dado a alguém. Raymundão foi quem levou o bicho. O zebu ficou uma noite apenas no curral. No outro dia, estava morto.

n Depois da chuva grossa, a boiada chegou ao córrego da Fome. Estava cheio. A travessia era perigosa, e o Major Saulo pediu cautela. Ali já morrera muita gente. Mas a travessia é feita sem perda. Até o Sete-de-Ouros atravessou sem reclamar.Em determinado ponto do caminho, Major Saulo ordenou que Francolim trocasse de montaria com João Manico. A ordem foi obedecida. Francolim fez um pedido ao Major: que, na entrada do povoado, a troca fosse desfeita. Não ficava bem para ele, encarregado do Major, ser visto montado no burrinho Sete-de-Ouros.

n Badu está na fazenda há apenas dois meses e já tomou a namorada do Silvino. Por isso, os dois viraram inimigos, um querendo prejudicar o outro. Francolim já avisou o major sobre o perigo de um matar o outro. Raymundão acha que o caso não é para morte. A moça é meio caolha. O casamento com Badu já está marcado. Raymundão, em prosa com o Major, informou que Silvino vendeu umas quatro cabeças de gado por preço abaixo do normal. Outra informação que veio do Francolim: Silvino está com bagagem além do normal. O Major Saulo, antes da chegada ao povoado, determinou que Francolim, na volta, vigie Silvino o tempo todo. O Major está convencido de que Silvino já planejou a morte de Badu.

n A chegada ao povoado foi uma festa. O povo, mesmo com a meia-chuva, foi para o curral da estrada de ferro ver o embarque. Depois, os animais ficaram descansando enquanto os vaqueiros andavam um pouco pelo povoado.Na hora de ir embora, cada um pegou a sua montaria. Badu ficou por último: estava bêbado e tinha ido comprar um presente para sua morena. Por maldade, deixaram-lhe o burrinho Sete-de-Ouros. Na saída do povoado, alguém vaiou: Badu era por demais grande para o burrinho pedrês, os pés iam quase arrastando no chão. Já no fim do lugar, Francolim estava parado no meio da estrada, esperando Badu.

n Francolim deixou Badu para trás e foi juntar-se ao grupo. Queria mesmo era ficar de olho em Silvino. Os dois, Silvino e o irmão Tote, iam bem na frente dos dois. Tote tentava dissuadir o mano para não matar Badu. Mas Silvino estava determinado. Esperava apenas o momento certo para fazer o serviço e cair no mundo.João Manico, por insistência de todos, contou mais uma vez a história da boiada que estourou à noite, quando o Major Saulo, ainda novo, era tratado por Saulinho. No estouro, de madrugada, o gado passou por cima dos dois vaqueiros que estavam de vigia. Deles, só restou uma lama cor de sangue.

n Viajavam à noite. De repente, os cavalos empacaram, pressentindo o mar de água. O Córrego da Fome transbordara, inundando tudo bem alem das margens. Todos aprovaram a idéia de esperar Badu e o burrinho Sete-de-Ouros. Se o burro entrasse na água, todos o seguiriam. É que burro não entra em lugar de onde não pode sair. Sete-de-Ouros entrou levando Badu ás costas. Os cavalos seguiram-no. E foi uma tragédia: oito vaqueiros mortos naquela noite. Benevides, Silvino, Leofredo, Raymundão, Sinoca, Zé Grande, Tote e Sebastião. O burrinho Sete-de-Ouros, com Badu agarrado às crinas e Francolim agarrado à cauda, conseguiu atravessar o mar de águas em que se transformara o pequeno córrego. Já em terra firme, livrou-se de Francolim e seguiu ligeiro para a fazenda. Ali, livraram-no do vaqueiro, que dormia, e dos arreios.

1 Colegial- Os Lusiadas

O RENASCIMENTO PORTUGUÊS: CAMÕES – Os Lusíadas (1572)
• Classicismo
* Retomada dos modelos greco-latinos (harmonia, proporção, equilíbrio)
* Modelos Literários: Homero (Ilíada; Odisséia)
Virgílio (Eneida)
* Epopéia – narrativa de feitos heróicos
âA viagem de Vasco da Gama às Índias (1497-1498)
* Presença da mitologia: Júpiter ; Vênus; Marte; Baco.


O RENASCIMENTO PORTUGUÊS: CAMÕES – Os Lusíadas (1572)
2. Estrutura Poética
* Versos Decassílabos (dez sílabas poéticas)
* Oitava Rima (ABABABCC)
* DEZ Cantos


O RENASCIMENTO PORTUGUÊS: CAMÕES – Os Lusíadas (1572)
3. Estrutura Narrativa
A) Proposição (estrofes 1 a 3; canto I)
B) Invocação (4 e 5; I)
C) Dedicatória (6 a 18; I)
D) Narração (estrofe 19, canto I; estrofe 144, canto X)
E) Epílogo (estrofes 145 a 156, canto X)


O RENASCIMENTO PORTUGUÊS: CAMÕES – Os Lusíadas (1572)
4. O Narrador
* Cantos I e II: Camões
*Cantos III, IV e V: Vasco da Gama
* Canto VI: Fernão Veloso
* Canto VII: Camões
* Canto VIII: Paulo da Gama
* Cantos IX e X: Camões


O RENASCIMENTO PORTUGUÊS: CAMÕES – Os Lusíadas (1572)
5. A obra – A narrativa
Canto I
- * Proposição (cantar os feitos portugueses - a saga de Vasco da Gama) (1-3)
- *Invocação às ninfas do Tejo (4-5)
- * Dedicatória a Dom Sebastião Menino (6-18)
- * Concílio dos deuses do Olimpo (20-41)
- * Chegada a Moçambique. Vasco é atacado pelo Mouro, inspirado por Baco, por ser Cristão. (42-94)
- * O falso piloto. Vasco, com os outros portugueses, triunfa e aceita como piloto o mouro que recebera a incumbência de os aniquilar. Vênus afasta a armada da costa de Quíloa. Novas tentativas do mouro e nova intervenção de Vênus.Chegada a Mombaça.. (95-104)
- * Meditação moral do poeta (105-106)


O RENASCIMENTO PORTUGUÊS: CAMÕES – Os Lusíadas (1572)
5. A obra – A narrativa
Canto II
- * Chegada a Mombaça, onde Baco queria aniquilar os portugueses. Fingindo ser sacerdote, Baco dá informações falsas aos dois portugueses que desembarcam.Vênus e as Nereidas impedem a entrada da nau capitania no porto. (1-32)
- * Vênus sobe ao Olimpo e queixa-se a Júpiter, que envia Mercúrio para preparar a recepção em Melinde e inspirar Gama.(33-63)
- * Chegada a Melinde e pedido do Rei de Melinde a Vasco da Gama.. (64-113)
O RENASCIMENTO PORTUGUÊS: CAMÕES – Os Lusíadas (1572)
5. A obra – A narrativa
Canto III
* Invocação à Calíope (1 e 2)
* Vasco da Gama conta ao Rei de Melinde a História de Portugal (21-117)
* De Luso a Viriato (chefe da resistência dos lusitanos por ocasião da conquista romana da Espanha);
* Conde D. Henrique (tornou-se conde de Portugal em 1095 pelo casamento com a princesa de Leão);
* D. Afonso Henriques (1º rei de Portugal, 1111-1185, notável por suas conquistas);
* D. Sancho I, D. Afonso II, D. Sancho II, D. Afonso III;


O RENASCIMENTO PORTUGUÊS: CAMÕES – Os Lusíadas (1572)
5. A obra – A narrativa
Canto III
* D. Dinis (1261-1325, o rei humanista, trovador e criador da Universidade);
* D. Afonso IV(episódio de Inês de Castro); (118-135)
* D. Pedro I (o cruel, o justiceiro -1357-1367-); (136 –137)
* D. Fernando. (138-143)
Canto IV
* D. João I (Fundador da dinastia de Avis, vencedor de Aljubarrota (1385); (1-93)
* D. Duarte, D. Afonso V, D. João II; (1-93)
* D. Manuel I (episódio do Velho do Restelo). (94-104)


O RENASCIMENTO PORTUGUÊS: CAMÕES – Os Lusíadas (1572)
5. A obra – A narrativa
Canto V
* Gama conta a largada de Lisboa. (1-3)
* A viagem pela costa ocidental da África(4-30)
* Veloso (30-36)
* Cabo das Tormentas – o Gigante Adamastor (37-60)
* Navegação até Melinde.(61-85)
* Elogios, pelo Gama, da tenacidade portuguesa. (86-91)
* Poeta coloca-se contra os portugueses, seus contemporâneos, por não valorizarem a poesia e a técnica que lhe corresponde.(92-100)

1º Colegial: Classicismo

Classicismo
Nascimento de um novo mundo.
Séc.: XV e XVI

üAbsolutismo. Maquiavel, “O Príncipe” 1513

üMercantilismo, o descobrimento e a exploração dos novos continentes.

üReforma protestante. Martinho Lutero entrou em atrito com a Igreja (1517).

üDesenvolvimento da pesquisa científica. Copérnico e Galileu.

üRenascimento. Cultura Clássica...
Antigüidade greco-latina

ü Ideal de perfeição

ü Liberdade de pensamento

ü Empirismo

ü Racionalismo

ü Fusionismo


O Classicismo em Portugal
Sá de Miranda (1481-1558)


ü Volta da Itália em 1527.

ü Dolce stil nouvo (o estilnovismo).

ü Decassílabo.

ü Soneto.



A / mor / é um / fo / go / que ar / de / sem / se / ver,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

É / fe / ri / da / que / dói / e / não / se / sen // te;
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

É / um / com / tem / ta / men / to / des / con / ten // te;
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

É / dor / que / de / sa / ti / na / sem / do / er
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

“Amor é fogo que arde sem se ver” Camões

1 - Amor é um fogo que arde sem se ver, A
2 – é ferida que dói e não se sente; B
3 – é um contentamento descontente, B
4 – é dor que desatina sem doer. A

5 - É um não querer mais que bem querer; A
6 – é um andar solitário entre a gente; B
7 – é um contentar-se de contente; B
8 – é cuidar que ganha em se perder. A

9 – é querer estar preso por vontade; C
10 – é servir a quem vence o, o vencedor; D
11 – é ter com quem nos mata lealdade. C

12 - Mas como causar pode ser ao seu favor D
13 – nos corações humanos amizade, C
14 – se tão contrario a si é o meu Amor? D

terça-feira, 3 de junho de 2008

1º Colegial: Última aula sobre o Humanismo

Humanismo Em Portugal
Fernão Lopes

-Guarda-Mor da Torre do Tombo, 1418.

-Cronista-Mor em 1434, (pesquisa e investigação).


No mesmo contexto

-Surgimento do absolutismo.

-O princípio das “Grandes Navegações”.

-O engatinhar do Mercantilismo.

Poesia Palaciana
Garcia Resende

-Organizou: “Cancioneiro Geral” – 1516

-Com isso a poesia separou-se da música,
passando a ser falada.

-Amadurecimento formal.

-Metrificação...


Metrificação ou escansão
-Divisão das sílabas poéticas:

“Catarina é mais fermosa
para mim que a luz do dia”. Camões

Sílabas Gramaticais
Ca/ta/ri/na/ é /mais/ fer/mo/sa
1 2 3 4 5 6 7 8 9
pa/ra/ mim/ que/ a/ luz/ do/ di/a
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Sílabas Poéticas
Ca/ta/ri/na é/ mais/ fer/mo/sa Redondilho maior (medida velha)
1 2 3 4 5 6 7
pa/ra/ mim/ que a/ luz/ do/ di/a
1 2 3 4 5 6 7
Gil Vicente

-Embora as datas sejam incertas, considera-se que Gil Vicente tenha nascido em 1465 e morrido em 1536.

-Teatrólogo – “pai do teatro português”

-1° peça: “Auto da Visitação” ou “Monólogo do vaqueiro”

Modalidade do textos dramáticos
Mistérios: Encenação de trechos bíblicos. Natal e a Paixão de Cristo.

Milagres: relatos da vida de santos ou da Virgem Maria.

Autos pastoris ou éclogas: encenava diálogos simples entre pastores

ØMoralidade: busca por um enriquecimento moral do público. Trilogia das Barcas (Auto da Barca do Inferno, Auto da Barca do Purgatório e Auto da Barca da Glória).

ØFarsas: comédia popular de conteúdo crítico ou satírico. Farsa de Inês Pereira
IN ILLO TEMPORE…
• IN ILLO TEMPORE…
• - Teatro vem de Theatron (grego) – significa “o que se vê”;
• - Tem origem na Grécia;
• - O Homem sentiu a necessidade de exteriorizar os seus sentimentos e as suas sensações;
• - Assim, nasceram os atos lúdicos, a dança e mais tarde o que chamamos teatro;
• - Começou por ser a narração de lendas ligadas aos deuses da mitologia grega;
• - Na Grécia e em Roma antigas, os escritores produziam tragédias e comédias.

TEATRO VICENTINO
• - Acabamento estético;
• - Deu consistência literária às representações teatrais que sempre existiram;
• - Peças que eram representadas em salões;
• - Peças que serviam para festejar determinados eventos:
• - nascimentos / casamentos;- partidas / chegadas do rei etc.

• AUTO é
• - Designação genérica das peças de Gil Vicente;- São peças de gosto tradicional que podem ser:
• - de assunto religioso ou profano; - sério ou cômico; - divididos por atos e cenas.
• Em 1562, Luis Vicente divide a obra de seu pai em:
• MORALIDADESPeças alegóricas de cunho religioso que podem conter elementos da Bíblia;
• FARSASCom tipos e ambientes da sociedade da época e com intuitos satíricos;
• COMÉDIAS E TRAGICOMÉDIASCom temas profanos e de grande espetáculo, representadas em ocasiões festivas da corte.
RIDENDO CASTIGAT MORES

• A rir se corrigem os costumes
• - Gil Vicente (dramaturgo satírico) utiliza vários processos geradores do riso na sua crítica social (SÁTIRA);
• - Criticar, provocando o riso nos espectadores, não só era mais divertido e adequado à função lúdica que o teatro vicentino tinha, como também permitia que a crítica fosse mais facilmente aceita.
PROCESSOS UTILIZADOS:
. CÔMICO
- algo que resulta de uma coincidência, um contraste, um desajuste, seja comportamental ou situacional
a) Cômico de situação
- resultado da própria situação, das circunstâncias criadas pelas personagens); b) Cômico de caráter
- resulta do temperamento, da maneira de ser ou estar, da personalidade;
c) CÔMICO DE LINGUAGEM
- resulta do uso de vários recursos lingüísticos que têm como função provocar o riso
Por exemplo:
- Uso de calão- Diferentes registros da língua- Ironia- Jogo de palavras- Pragas, rezas, provérbios- Latim macarrônico

2. IRONIA
- recurso muito utilizado por Gil Vicente;- dizer o contrário do que se pensa, usando uma entoação que o dê a entender.
3. TIPOS
- personagens-tipo que representam uma classe, uma profissão, uma idade;
- personagens detentoras de características atribuíveis ao grupo social, profissional ou etário a que pertencem, sem densidade psicológica e interior que poderia fazer delas casos únicos e singulares.

O teatro de Gil Vicente é de natureza e alcance social,logo NÃO visa criticar indivíduos determinados,MAS instituições, classes ou grupos sociais,por isso é que ele utiliza as personagens-tipo.

domingo, 1 de junho de 2008

5ª Série do Colégio Interativo... que alegria!

Depois de lermos e refletirmos sobre o avanço tecnológico, a turma foi convidada a fazer uma pesquisa sobre as brincadeiras de antigamente, para isso até os pais ajudaram!

Após os resultados serem expostos na sala, chegou a hora de (re)viver algumas dessas brincadeiras, resultado: muita alegria e diversão!!!

"Corre cutia"; "Barra Manteiga" e "Matança"




















7ª 6 - Escola M. Jorge Oliva: primeira etapa da Olimpíada de Língua Portuguesa

Para resgatar as lembranças de nossa gente e lugar, começamos a desenvolver as oficinas do projeto Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa/2008.
Nessa primeira etapa, os alunos entrevistaram alguns moradores antigos da cidade e resgataram muitas histórias e 'causos' populares. Todos nós gostamos bastante do resultado e para finalizar, realizamos uma pequena exposição de objetos antigos que representam esse 'mundo velho-novo' a ser descoberto.
Parabéns, moçada!








Para quem quer saber sobre a mudança na Língua Portuguesa, segue um artigo escrito pelo Professor Ernani Terra que esclarecerá suas dúvidas...

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
Ernani Terra

Breve histórico

As tentativas de unificação do sistema ortográfico dos países de língua portuguesa não são novas. José Malaca Casteleiro, da Academia de Ciências de Lisboa, em recente palestra na Pontifícia Universidade de Católica de São Paulo, disse que a questão da unificação ortográfica é uma nova guerra dos cem anos. De fato, a primeira tentativa de unificação ortográfica da língua portuguesa breve completará um século, pois data de 1911.
No Brasil, adotamos o sistema ortográfico de 1943, simplificado pela Lei n. 5.765, de 18 de dezembro de 1971, que aboliu o acento diferencial das palavras homógrafas (com algumas exceções) e o acento grave e o circunflexo nas palavra derivadas de outras já acentuadas graficamente em que ocorrem os sufixos -mente ou outros começados pela letra z. Em Portugal, o sistema adotado é o do acordo de 1945 entre Brasil e Portugal, mas não ratificado pelo Brasil. Como os sistemas adotados no Brasil (1943) e Portugal (1945) são distintos, há diferenças ortográficas entre o português desses dois países. O sistema ortográfico brasileiro também diverge do adotado nos países africanos de língua portuguesa. Vale acrescentar, no entanto, que as diferenças não se restringem apenas a questões de natureza ortográfica: há também diferenças de vocabulário, de pronúncia, de sintaxe etc.
Há algum tempo, as tentativas de acordo restringiam-se a Brasil e a Portugal, já que as nações africanas de língua portuguesa (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe) eram colônias portuguesas, e o Timor Leste vivia sob o domínio da Indonésia. Com a independência política das ex-colônias africanas e do Timor Leste, temos então oito países soberanos em que a língua oficial é o português, com uma população de mais de 230 milhões de pessoas, espalhadas em quatro continentes. A esse conjunto de países cujo idioma oficial é o português, damos o nome de Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, aqui simplesmente chamado de Acordo, foi assinado em Lisboa em 16 de dezembro de 1990 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, e visa à unificação do sistema ortográfico da língua portuguesa. Estabeleceu-se que o Acordo entraria em vigor em 1.º de janeiro de 1994, após a sua ratificação por todos os países da CPLP. Como isso não ocorreu, o Acordo não entrou em vigor.
Em julho de 2004, numa reunião realizada em São Tomé e Príncipe, já com a presença do Timor Leste, foi aprovado por unanimidade que o Acordo entraria em vigor, desde que fosse ratificado por pelo menos três países da CPLP. Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe já ratificaram o Acordo. Portugal, em 16 de maio de 2008, ratificou o acordo. Face isso, espera-se que os demais países lusófonos o ratifiquem também. No texto do Acordo, está previsto a elaboração de um vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa “tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível”.
Em decorrência do Acordo, haverá modificações no sistema ortográfico. Mas não se deve entrar “em desespero” por causa disso! Há dois motivos: 1) as mudanças, para nós, brasileiros, são poucas; 2) num primeiro momento (vamos chamá-lo de “adaptação”), os dois sistemas ortográficos vão conviver: o antigo e o novo. Continuaremos a ler livros, jornais, revistas, legendas de filmes etc. escritos no sistema ortográfico antigo.
Nosso objetivo, neste artigo, não é apresentar o texto integral do Acordo, mas mostrar de maneira objetiva as principais modificações que ele introduz no sistema ortográfico, mostrando como era antes e como fica depois de sua vigência.

Letras k, w e y

Pelo Acordo, as letras k, w e y passam a fazer parte de nosso alfabeto. Quando a seu emprego, nada muda.
O emprego dessas letras, como era antes, fica restrito a alguns casos específicos:
a) grafia nomes próprios estrangeiros e seus derivados:
Darwin, darwiniano, Kant, kantismo, Byron, byroniano, Kuwait, kuwaitiano etc.;
b) siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso internacional:
K (símbolo de potássio); W (símbolo de Oeste na rosa-dos-ventos); Km (símbolo de quilômetro); watt; K.O. (abreviatura de knockout, nocaute em português); www (sigla de world wide web, a rede mundial de computadores)
c) palavras estrangeiras de uso internacional:
show, sexy, hacker, megabyte, download

Trema
Pelo Acordo, o trema fica abolido.

como era
como fica
agüentar
aguentar
sagüi
sagui
freqüente
frequente
tranqüilo
tranquilo

Importante:
· O Acordo aboliu o sinal gráfico trema (¨), mas a pronúncia das palavras que recebiam trema nos encontros gue, gui, que, qui continua a mesma. Assim, o u das palavras da lista acima devem ser pronunciadas como antes: aguentar, sagui, frequente, tranquilo. Lembre-se de que se trata de um acordo ortográfico, ou seja, modifica-se a grafia, mas não a pronúncia das palavras, de sorte que se continuará a pronunciar as palavras da mesma maneira como eram pronunciadas antes do Acordo, apesar de a grafia ter sido alterada.

Acentuação gráfica
Hiato oo
O hiato oo não mais recebe acento circunflexo.
como era
como fica
enjôo
enjoo
vôo
voo
abençôo
abençoo
magôo
magoo

Verbos crer, dar, ler, ver (e derivados)
Não mais se emprega o acento circunflexo na terceira pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos crer, dar, ler, ver (e seus derivados).

como era
como fica
crêem
creem
dêem
deem
lêem
leem
vêem
veem
descrêem
descreem
relêem
releem

Acentuação dos ditongos de pronúncia aberta éu, éi, ói
Os ditongos de pronúncia aberta éu, éi, ói recebem acento agudo na vogal quando ocorrem em palavras oxítonas ou monossílabos:
céu, anéis, dói, mausoléu, herói, pastéis
Nas palavras paroxítonas tais ditongos ocorrerem não mais recebem acento.

como era
como fica
assembléia
assembleia
idéia
ideia
heróico
heroico
jibóia
jiboia

Insistimos:
· O acento agudo dos ditongos abertos éu, éi, ói só desapareceu nas palavras paroxítonas. As oxítonas (incluindo-se aí os monossílabos tônicos terminados em éu, éi, ói) continuam recebendo acento gráfico.
chapéu, pastéis, herói, céu, dói etc.

Acentuação da letras i e u nos hiatos
Não se acentuam as letras i e u tônicas que formam hiato com a vogal anterior, quando precedidas de ditongo.
como era
como fica
baiúca
baiuca
boiúna
boiuna
feiúra
feiura

Observações:
· Nas palavras oxítonas, o acento se mantém:
Piauí, tuiuiú
· Para os demais casos, nada muda, ou seja, as letras i e u receberão acento agudo se ficarem sozinhas na sílaba (ou juntas com -s), vierem precedidas de vogal, e não forem seguidas de -nh:
saída, saíste, saúde, balaústre, baú, baús.
· Mas
rainha, bainha, tainha, campainha
sem acento gráfico porque a letra i vem seguida de -nh

Acento diferencial
Emprega-se o acento diferencial em:
a) pôde (terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo poder) para distinguir de pode (terceira pessoa do singular do presente indicativo do mesmo verbo).
b) pôr (forma verbal) para distingui-la de por (preposição).
c) facultativamente, em: fôrma (substantivo) para distinguir de forma (substantivo ou verbo); dêmos (primeira pessoa do plural do presente do subjuntivo) para distinguir de demos (primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo) e nas formas da primeira pessoal do plural do pretérito perfeito do indicativo dos verbos da primeira conjugação, para diferenciar da mesma pessoa e número do presente do indicativo: amámos, cantámos, estudámos (pretérito perfeito do indicativo).

Observação:
· Pelo Acordo, desaparecem os demais acentos diferenciais, como em:
pára (verbo) para distinguir de para (preposição)
pêlo (substantivo) para distinguir de pelo (contração)
pêra (substantivo) para distinguir de pera (preposição arcaica)

Em síntese:
Só há, em português, duas palavras que obrigatoriamente recebem acento circunflexo diferencial: pôr (verbo) e pôde (terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo).

Emprego do hífen
O hífen (-) continua a ser usado nas palavras compostas, na ligação dos pronomes oblíquos enclíticos (colocados depois) e mesoclíticos (colocados no meio) ao verbo e na ligação dos sufixos de origem tupi:
couve-flor, segunda-feira, entregá-lo, entregá-lo-íamos, sabiá- guaçu
No entanto, as palavras em que se perdeu a noção de composição deverão ser escritas sem o hífen.
como era
como fica
manda-chuva
mandachuva
pára-quedas
paraquedas

Além disso, o Acordo estabelece que se emprega hífen:
1. Nos nomes de lugares iniciados por grã e grão, por verbo e naqueles cujos elementos estejam ligados por artigo:
Grã-Bretanha, Grão-Pará, Baía de Todos-os-Santos, Passa-Quatro, Trás-os-Montes
Os demais nomes de lugar, com exceção de Guiné-Bissau, devem ser escritos sem hífen:
Costa Rica, Nova Zelândia, Porto Alegre etc.

2. Nos compostos iniciados pelos prefixos ante-, anti-, auto-, circum-, co-, contra-, entre-, extra-, hiper-, infra-, intra-, pan-, semi-, sobre, sub-, super-, supra-, ultra- etc.:
a) quando o segundo elemento começa por h:
anti-higiênico, circum-hospitalar, co-herdeiro, pan-helenismo, pré-história, semi-hospitalar
b) quando o prefixo termina com a mesma vogal com que começa o segundo elemento:
anti-ibérico, auto-observação, contra-almirante

Observação:
O prefixo co-, quando se junta a outro elemento iniciado por o, não se separa por hífen:
cooperar, coordenar, coordenação

c) com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal, m, n (além do h referido anteriormente):
circum-escolar, circum-navegação, pan-africano
d) com os prefixos hiper-, inter-, super-, quando o segundo elemento começa por r:
hiper-requintado, inter-racial, super-realista
e) com os prefixos tônicos acentuados graficamente pós-, pré-, pró-, quando o segundo elemento tem vida à parte:
pós-operatório, pré-escolar, pró-britânico.
Não se usa hífen:
a) quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s:
antirreligioso, antissemita, contrarregra, cosseno
b) quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente dela:
antiaéreo, autoestrada, coeducação
Quanto ao uso do hífen com prefixos, a modificação que o Acordo traz é a seguinte: não se usa mais o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r, s ou vogal diferente.
como era
como fica
anti-religioso
antirreligioso
anti-semita
antissemita
contra-regra
contrarregra
contra-senha
contrassenha
extra-regular
extrarregular
extra-escolar
extraescolar
auto-aprendizagem
autoaprendizagem
auto-estrada
autoestrada

Uso de letras iniciais minúsculas e maiúsculas
1. Escrevem-se com inicial minúscula:
a) os nomes de dias, meses e estações do ano:
segunda-feira, sábado, domingo; janeiro, fevereiro, março; primavera, verão
b) as designações de pessoas desconhecidas ou que não se quer nomear:
fulano, beltrano, sicrano
c) os nomes dos pontos cardeais (mas não nas abreviaturas):
norte, sul, leste, oeste

Observação:
· Quando empregados para designar região, os nomes dos pontos cardeais devem ser escritos com inicial maiúscula.
Parou de chover no Nordeste.

2. Escrevem-se com inicial maiúscula:
a) os nomes de pessoas e lugares, sejam eles reais ou fictícios:
Humberto, Luciana, Marcos, Rapunzel, Bahia, Niterói, Atlântida, Cupido
b) os nomes de festas e festividades:
Natal, Páscoa
c) os nomes de instituições:
Senado Federal, Supremo Tribunal Federal
3. É indiferente o uso de inicial maiúscula ou minúscula:
a) em caracterizadores de logradouros públicos, templos ou edifícios:
Rua Direita (ou rua Direita), Avenida Brasil (ou avenida Brasil), Catedral de Brasília ou (catedral de Brasília), Edifício Itália ou (edifício Itália)
b) em formas de tratamento, expressões de reverência, designação de nomes sagrados:
Senhor Doutor Pedro da Silva (ou senhor doutor Pedro da Silva), Dona Lúcia (ou dona Lúcia), Santa Genoveva (ou santa Genoveva)
c) nomes que indicam disciplinas ou ramos do saber:
Matemática (ou matemática), Astronomia (ou astronomia)
Em relação ao sistema ortográfico anterior, o Acordo altera pouca coisa. Os nomes de logradouros públicos e os nomes que designam disciplinas, que, pelo pelo sistema antigo, eram grafados com inicial maiúscula, pelo Acordo podem ser grafados indiferentemente com inicial maiúscula ou minúscula.

Separação silábica
O Acordo mantém o princípio já utilizado de que a separação silábica deve ser feita, de modo geral, com base na soletração, e não com base nos elementos que compõem a palavra, segundo sua origem. Em decorrência disso, nada se altera quanto a divisão silábica das palavras.

Considerações finais
1. O Acordo propõe que sejam eliminadas as consoantes mudas (acção, excepção, reflectir etc.)
Tal eliminação proposta pelo Acordo, para nós, brasileiros, nada altera, pois, ao contrário do que ocorre na norma lusoafricana, já não grafávamos tais consoantes.
ação, atual, batismo, elétrico, exceção, projeto, refletir
2. Quanto às palavras proparoxítonas, reais ou aparentes, cuja vogal tônica admite mudança de timbre, o Acordo estabelece que elas terão dupla grafia.
acadêmico (ou académico), cômodo (ou cómodo), ingênuo (ou ingénuo), oxigênio (ou oxigénio)
Para nós, do Brasil, nada muda, pois continuaremos acentuando essas palavras com acento circunflexo, já que, na norma brasileira, a vogal tônica acentuada nessas palavras tem pronúncia fechada.
acadêmico, cômodo, oxigênio
Na norma lusoafricana, ao contrário, tais palavras têm pronúncia aberta.
cómodo, académico, oxigénio