segunda-feira, 30 de março de 2009

Instituto Máris Célis - 3º Colegial 2ª Fase Modernista Prosa - Matéria para PII 03-04

Segunda fase Modernista no Brasil (1930-1945) - Prosa
Romances caracterizados pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira, atingindo elevado grau de tensão nas relações do eu com o mundo. Uma das principais características do romance brasileiro é o encontro do escritor com seu povo. Há uma busca do homem brasileiro nas diversas regiões, por isso o regionalismo ganha importância, com destaque às relações do personagem com o meio natural e social.

Os escritores nordestinos merecem destaque especial, por sua denúncia da realidade da região pouco conhecida nos grandes centros. O 1° romance nordestino foi A Bagaceira de José Américo de Almeida. Esses romances retratam o surgimento da realidade capitalista, a exploração das pessoas, movimentos migratórios, miséria, fome, seca etc.

Autores Principais

Rachel de Queiroz (1910 - )
Cearense, viveu na infância o problema da seca que atingiu uma propriedade de sua família. Em 1930 (aos 20 anos) publica o romance O Quinze, que lhe angaria um prêmio e reconhecimento público.
Participa ativamente da política, militando no Partido Comunista Brasileiro e é presa em 1937, por suas idéias esquerdistas. A partir de 1940 dedica-se à crônica e ao teatro. Quebrou uma velha tradição, ao tornar-se (1977) a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras.
Sua literatura caracteriza-se, a princípio, pelo caráter regionalista e sociológico, com enfoque psicológico, que tende a se valorizar e a aprofundar-se à proporção que sua obra amadurece. Seu estilo é conciso e descarnado, sua linguagem fluente, seus diálogos vivos e acessíveis, o que resulta numa narrativa dinâmica e enxuta.
O Quinze e João Miguel há coexistência do social e ppsicológico. Caminho de Pedras é o ponto máximo de sua literatura engajada e de esquerda (mais social e político). As Três Marias abandona o aspecto social, enfatizando a análise psicológica.

Obras:
· Romances: O Quinze(1930) e João Miguel (1932) - seca; coronelismo; impulsos passionais / Caminho de Pedras (1937) e As Três Marias (1939) - literatura engajada, esquerdizante, social e política, trata ainda da emancipação feminina / O Galo de Ouro (folhetim em “O Cruzeiro”) / Memorial de Maria Moura (1992; surpreende seu público e é adaptado para a televisão)
· Teatro: Lampião (1953), A Beata Maria do Egito (1958, raízes folclóricas), A Sereia Voadora.
· Crônica: A Donzela e a Moura Torta (1948), Cem Crônicas Escolhidas (1958), O Brasileiro Perplexo (1963, Histórias e Crônicas), O Caçador de Tatu (1967)
· Literatura Infantil: O Menino Mágico, Andira.

José Lins do Rego (1901 - 1957)
Paraibano, é considerado um dos melhores representantes da literatura regionalista do Modernismo. Em Recife, aproxima-se de José Américo de Almeida e Gilberto Freire, intelectuais responsáveis pela divulgação do modernismo no nordeste e pela preocupação regionalista. Mais tarde também conhece Graciliano Ramos, e depois para o Rio de Janeiro, onde participa ativamente da vida literária. Sua infância no engenho influenciou fortemente sua obra.
Suas obras Menino de Engenho, Doidinho, Bangüê, Moleque Ricardo, Usina e Fogo Morto compõem o que se convencionou chamar de “ciclo da cana de açúcar”. Nestas obras J. L. Rego narra a gradativa decadência dos engenhos e a transformação pela qual passam a economia e a sociedade nordestina. Sua técnica narrativa se mantém nos moldes tradicionais da literatura realista: linearidade, construção do personagem baseado na descrição dos caracteres, linguagem coloquial, registro da vida e dos costumes. O tom memorialista é o fio condutor de uma literatura que testemunha uma sociedade em desagregação: a sociedade do engenho patriarcalista, escravocrata. As obras mais representativas desta fase são Menino de Engenho e Fogo Morto. A primeira é a história de um menino, órfão de pai e mãe, que é criado no Engenho Santa Rosa, de seu avô José Paulino, típico representante do latifundiário nordestino. Há momento de grande emoção na obra, como a descrição da enchente, o castigo dos escravos, a descoberta da própria sexualidade.
Fogo Morto é considerada sua melhor obra: dividida em três partes que se interrelacionam, compõe um quadro social e humano do Nordeste. Mestre José Amaro, seleiro, orgulhoso de sua profissão, sofre as pressões do coronel Lula de Holanda, senhor do Engenho Santa Fé, em decadência econômica. Antônio Silvino, cangaceiro, é o terror da região e ataca os engenhos. O capitão Vitorino Carneiro da Cunha, lunático, é uma espécie de místico e profeta do sertão.
Além destas obras, José Lins escreveu: Pedra Bonita e Cangaceiros, onde continua a traçar um quadro da vida nordestina, aproveitando agora elementos do folclore e do cordel. Estes romances pertencem ao “ciclo do cangaço, misticismo e seca”. Além destes, escreveu também Água-mãe e Eurídice, de ambientação urbana.

Obras:
· Romances: Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934), O Moleque Ricardo (1935), Usina (1936), Pureza (1937), Pedra Bonita (1938), Riacho Doce (1939), Água-mãe (1941), Fogo Morto (1943), Eurídice (1947), Cangaceiros (1953).
· Literatura infantil, memórias e crônicas: Histórias da Velha Totônia (1936), Gordos e Magros (1942), Seres e Coisas (1952), Meus Verdes Anos (1956).

Graciliano Ramos (1892-1953)
Alagoano, faz jornalismo e política estreando com Caetés (1933). Em Maceió conheceu alguns escritores do grupo regionalista: José Lins, Jorge Amado, Raquel de Queirós. Nessa época redige S. Bernardo e Angústia.
Envolvendo-se em política, é preso e acusado de comunista, essas experiências pessoais são retratadas em Memórias do Cárcere. Em 1945 ingressa no Partido Comunista e empreende uma viagem aos países socialistas, narrada no livro Viagem.
Considerado o melhor romancista moderno da literatura brasileira. Levou ao limite o clima de tensão presente nas relações entre o homem e o meio natural, o homem e o meio social. Mostrou que essas tensões são capazes de moldar personalidades e transformar comportamentos, até mesmo gerar violência.
Luta pela sobrevivência é o ponto de ligação entre seus personagens, onde a lei maior é a lei da selva. A morte é uma constante em suas obras como final trágico e irreversível (suicídios em Caetés e São Bernardo, assassinato em Angústia e as mortes do papagaio e da cadela Baleia em Vidas Secas).
Antonio Candido propõe uma divisão da obra em 3 partes:
romances em 1ª pess. (Caetés, São Bernardo e Angústia) - pesquisa da alma humana e retrato e análise da sociedade
romances em 3ª pess. (Vidas Secas) - enfoca modos se der e as condições de existência no meio da seca
autobiografias (Infância e Memórias do Cárcere) - coloca-se como caso humano, como uma necessidade de depor, denunciar
Seua personagens são seres oprimidos e moldados pelo meio. Tanto Paulo Honório (personagem de São Bernardo), quanto Luís da Silva (de Angústia) são o que se chama de “herói problemático”, em conflito com o meio e consigo mesmos, em luta constante para adaptar-se e sobreviver, insatisfeitos e irrealizados. Linguagem sintética e concisa.

Obras : Caetés (1933), S. Bernardo (1934), Angústia (1936), Vidas Secas (1938), Dois Dedos (1945), Insônia (1947), Infância (1945), Memórias do Cárcere (1953), Histórias de Alexandre (1944), Viagem (1953), Linhas Tortas (1962) etc.

Jorge Amado (1912 -)
Nasceu na zona cacaueira baiana e depois morou em Salvador, essas referências são fontes de inspiração para suas obras. Estréia com O País do Carnaval e, levado por Rachel de Queiroz, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, por onde mais tarde torna-se deputado. Sofre perseguições políticas, exila-se e mais tarde é preso.
Na vasta ficção de Jorge Amado convivem lirismo, sensualismo, misticismo, folclore, idealismo, engajamento político, exotismo. Este painel, sem dúvida, bastante rico, aliado a uma linguagem coloquial, fluida, espontânea, aparentemente sem elaboração, tem sido responsável pela grande aceitação popular de sua obra. Além disso, seus heróis são marginais, pescadores, marinheiros, prostitutas e operários; todos personagens de origem popular. Suas obras estão ambientadas no quadro rural e urbano da Bahia e seu aspecto documental a torna autenticamente regionalista.

Podemos dividir assim a sua produção:
· Ciclo do Cacau: Cacau, Suor, Terras do Sem Fim, São Jorge de Ilhéus - problemas coletivos, “realismo socialista”.
· Romances líricos, com um fundo de problemática social: Jubiabá, Mar Morto, Capitães de Areia.
· Romances de costumes provincianos, geralmente sentimentais e eróticos: Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e Seus Dois Maridos.
Obra bastante vasta, incluindo ainda escritos de pregação partidária (Cavaleiro da Esperança, Os Subterrâneos da Liberdade).
Obras : A.B.C de Castro Alves; O Cavaleiro da Esperança. A vida de Luis Carlos Prestes; Agonia da Noite; O Amor de Soldado; Os Ásperos Tempos; Bahia Amada Amado (Jorge Amado e Maureen Bisilliat); Bahia de Todos os Santos; A Bola e o Goleiro; Brandão entre o Mar e o Amor; Cacau; O Capeta Carybe; Capitães de Areia; O Capitão de Longo Curso; Compadre de Ogum; A Descoberta da América pelos Turcos; Dona Flor e seus Dois Maridos; Farda Fardão Camisola de Dormir; Gabriela, Cravo e Canela; O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá; Jubiaba; Tereza Batista Cansada de Guerra; O Sumiço da Santa; Suor; Tenda dos Milagres; A Luz no Túnel; Terras do Sem Fim; Mar Morto; Tieta do Agreste; Tocaia Grande; Os velhos Marinheiros; O Menino Grapuina; O Milagre dos Pássaros; A Morte e a Morte de Quincas Berro D’gua; Navegação de Cabotagem; O País do Carnaval; Os Pastores da Noite; São Jorge dos Ilhéus; Seara Vermelha; O Capitão de Longo Curso; Os Primeiros Subterrâneos da Liberdade, I; Os Subterrâneos da Liberdade,II; Os Subterrâneos da Liberdade,III; Os Subterrâneos da Liberdade,IV.

Érico Veríssimo (1905-1975)
Sua família rica foi à falência e o escritor teve que trabalhar sem possibilidade de seguir estudos. Em Porto Alegre, entra em contato com a vida literária e inicia-se no jornalismo. Começa então a publicar contos e romances, entre os quais, Clarissa, que logo se tornou um sucesso. Viajou para vários países, lecionou Literatura Brasileira nos EUA e trabalhou na OEA. Voltando ao Brasil, dedica-se a escrever e produz uma vasta obra.
Escritor de grandes dimensões, em sua produção se incluem romances, crônicas, literatura infantil. Os romances que compõem a trilogia O Tempo e o Vento (O Continente, O Retrato, O Arquipélago) traçam um painel histórico de várias gerações: desde a época colonial sucedem-se as lutas entre portugueses e espanhóis, farrapos e imperiais, maragatos e pica-paus (nomes dos partidos em guerra política). Duas famílias, os Terra Cambará e os Amaral, são durante dois séculos o fio narrativo que unifica a história. Érico Veríssimo compõe uma verdadeira saga romanesca, com todas as suas características: guerras intermináveis, aventuras, amores, traições, gerações que se sucedem, criando um painel histórico da comunidade rio-grandense e do próprio Brasil. A obra é uma aglutinação de novelas, onde ressaltam as figuras épicas de Ana Terra e do Capitão Rodrigo Cambará. O estilo de Érico Veríssimo é coloquial, poético, intimista. Sua técnica de construção é o contraponto: onde várias histórias se desenvolvem paralelamente, a ação concentrada e o dinamismo. Em suas últimas obras, como O Prisioneiro, O Senhor Embaixador e Incidente em Antares, desenvolveu a ficção política, ambientada nos dias atuais.

Obras : Fantoches; Clarissa; Música ao Longe; Caminhos Cruzados; Um Lugar ao Sol; Olhai os Lírios do Campo; Saga; O Resto é Silêncio; Noite; O Tempo e o Vento: O Continente, O Retrato, O Arquipélago; O Senhor Embaixador; Incidente em Antares; Aventuras de Tibicuera; Gato Preto em Campo de Neve.

domingo, 22 de março de 2009

Congresso Pitágoras em BH... 21-03-2009

Tivemos o prazer de participar do Congresso Pitágoras de Capacitação para Professores neste final de semana.

Professor que não aprende não ensina...

Palestra: Educação e Gestão do Conhecimento - Mário Sérgio Cortela

"Os alunos de hoje não são mais os mesmos, seus alunos não conheceram Ayrton Sena, Mamonas Assassinas, não sabem o que é inflação, não fazem ideia para que serve o Frezzer, como estoque de comida, enfim, os professores querem dar as mesmas aulas para alunos diferentes."

"O professor entra em contato todo ano, com que há de mais novo na vida humana!"

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Agradecimentos:
À Secretaria de Educação Municipal de Itaú de Minas e à nossa secretária de educação, Sra. Macedo, pelo apoio e confiança;
À diretora pedagógica do Colégio Del Rey, professora Orlanda, que permitiu nossa participação nesse momento de aprendizagem;
À diretora da Escola M. Engenheiro Jorge Oliva, Marlene rosa, que sempre demonstrou sua confiança em nossa trabalho;
Ao coordenador da Escola Jorge Oliva e do Colégio Del Rey, pela amizade e disposição em ajudar.

Resultado.... Paulo Vitor Faloni, campeão!!!!!

Parabéns, Paulo Vitor!!!

Você conseguiu reconhecer quem era o autor da caricatura: Fernando Pessoa, um dos maiores poetas modernistas portugueses.

Pessoa além de ser reconhecido por sua obra, também é estudado em relação ao fenômeno da heteronímia, ou seja, o próprio autor se desmembrava em outros três autores, dando-lhes vida (biografia) e obras próprias. O meu preferido é Ricardo Reis, mas isso é tema para outras histtórias...rs.... Pessoa é estudado profundamente somente no Colegial...mas deixo-lhes um texto desse mestre, para dar 'água-na-boca', bjs!!!!

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas
Que já têm a forma do nosso corpo…
E esquecer os nossos caminhos
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre
À margem de nós mesmos.”

sábado, 7 de março de 2009

Colégio Interativo - Provão 14/03/2009

Conteúdos Relacionados:

6º Ano: - Interpretação de textos;
- Fonética: fonemas e letras;
- Ortografia: G/J.

7º Ano: - Interpretação de texto;
- Palavras homônimas e parônimas;
- Verbo: modo indicativo e subjuntivo

1º Colegial: - Introdução à Literatura: conceitos gerais;
- Figuras de Linguagem.

2º Colegial: - Realismo: Introdução;
- Realismo em Portugal.

3º Colegial: - Introdução à Literatura;
- Figuras de Linguagem.

Máris Célis - 1º Colegial Variedade Linguística

LÍNGUA PADRÃO

Linguagem e sociedade

Linguagem e sociedade estão ligadas entre si de modo inquestionável. Mais do que isso, podemos afirmar que essa relação é a base da constituição do ser humano. A história da humanidade é a história de seus organizadores em sociedade e detentores de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua.
Qualquer língua, falada por qualquer comunidade, exibe sempre variação. Pode-se afirmar mesmo que nenhuma língua se apresenta como entidade homogênea. Isso significa dizer que qualquer língua é representada por um conjunto de variedades. Concretamente o que chamamos de “língua portuguesa” engloba os diferentes modos de falar utilizados pelo conjunto de seus falares do Brasil, em Portugal, em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor etc.
Língua e variação são inseparáveis. A diversidade da língua não deve ser encarada como um problema, mas como uma qualidade constitutiva do fenômeno lingüístico. Os falantes adquirem as variedades lingüísticas próprias da sua região, de sua classe social etc. De uma perspectiva geral, podemos descrever as variedades lingüísticas a partir de dois parâmetros básicos: a variação geográfica e variação social.
A variação geográfica está relacionada às diferenças lingüísticas no espaço físico, observáveis entre falantes de origens geográficas distintas. Exemplos: o uso de vogais abertas [mE’ladu] (no Nordeste) e uso de vogais fechadas [me’ladu] (no Sudeste); preferência pela posposição verbal na negação, como em “sei não” (no Nordeste) e “não sei” ou “não sei, não” (no Sudeste); uso do artigo definido antes de nomes próprios , como em “falei com a Joana” (Sudeste) e “falei com Joana” (Nordeste).
Tomando-se a comunidade de fala da língua portuguesa como um todo, podemo-nos referir às variedades brasileira, portuguesa, baiana, curitibana, rural paulista (ou caipira) etc.
A variação social, por sua vez, relaciona-se a um conjunto de fatores que têm a ver com a identidade dos falantes e também com a organização sociocultural da comunidade de fala. Nesse sentido, podemos apontar os seguintes fatores relacionados às variações de natureza social:
a) classe social – observa-se o uso de dupla negação, como “ninguém não viu”, “eu nem não gosto”, presença de [r] em lugar de [l] em grupos consonantais, como em “brusa”, “grobo” nas falas de grupos situados abaixo na escala social.
b) idade – uso de léxico particular, como o uso de gírias que denota faixa etária jovem.
c) sexo
d) profissão
e) situação ou contexto social – qualquer pessoa muda sua fala de acordo com o(s) seu(s) interlocutor(es) segundo o lugar em que se encontra – em um bar, em uma conferência – e até mesmo segundo o tema da conversa – fofoca, assunto científico. Ou seja, todo falante varia sua fala segundo a situação em que se encontra. Cada grupo social estabelece um contínuo de situações cujos pólos extremos e opostos são representados pela formalidade e informalidade. Em nossa sociedade, conferências, entrevistas para obtenção de emprego, solicitação de uma informação a um desconhecido, contato entre vendedores e clientes são, em geral, vistos como situações formais. Já situações como passeatas, mesas redondas sobre esporte, bate-papo em bar, festas de Natal nas empresas são definidas como informais. As variedades lingüísticas utilizadas pelos participantes das situações devem corresponder às expectativas sociais convencionais: o falante que não atender às convenções pode receber algum tipo de “punição”.
Aprendemos a falar na convivência. Mas, mais do que isso, aprendemos que devemos falar de um certo modo e quando devemos falar de outro. Os indivíduos que integram uma comunidade precisam saber quando devem mudar de uma variedade para outra.
Os parâmetros da variação lingüística são diversos, como se pode inferir da exposição feita até aqui. Assim no ato de interagir verbalmente, um falante utilizará a variedade lingüística relativa a sua região de origem, classe social, idade, escolaridade, sexo, profissão etc. e segundo a situação em que se encontrar.


As variedades lingüísticas e a estrutura social

Como já foi dito, em qualquer comunidade de fala, podemos observar a coexistência de um conjunto de variedades lingüísticas. Essa coexistência, entretanto, não se dá no vácuo, mas no contexto das relações sociais estabelecidas pela estrutura sociopolítica de cada comunidade. Na realidade objetiva da vida social, há sempre uma ordenação valorativa das variedades lingüísticas em uso, que reflete a hierarquia dos grupos sociais. Isto é, em todas as comunidades existem variedades que são consideradas superiores e outras inferiores. “Uma variedade lingüística ‘vale’ o que ‘valem’ na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais” (Gnerre). Constata-se, de modo evidente, a existência de variedades prestigiadas e de variedades não prestigiadas nas sociedades em geral. As sociedades de tradição ocidental oferecem um caso particular de variedade prestigiada: a variedade padrão. A variedade padrão é a variedade lingüística socialmente mais valorizada de reconhecido prestígio dentro de uma comunidade, cujo uso é normalmente requerido em situações de interação determinadas, definidas pela comunidade como próprias em função da formalidade da situação, do assunto tratado, da relação entre os interlocutores etc. A questão da língua padrão tem uma enorme importância em sociedades como nossa.
A variedade padrão de uma comunidade – também chamada norma culta, ou língua culta – não é como um senso comum faz crer a língua por excelência a língua original, posta em circulação, da qual os falantes se apropriam como podem ou são capazes. O que chamamos de variedade padrão é o resultado de uma atitude social ante a língua, que se traduz, de um lado, pela seleção de um dos modos de falar entre variedades existentes na comunidade, de outro, pelo estabelecimento de um conjunto de normas que definem o modo “correto” de falar. Tradicionalmente, o melhor modo de falar e as regras do bom uso correspondem aos hábitos lingüísticos dos grupos socialmente dominantes. Em nossas sociedades de tradição ocidental, a variedade padrão, historicamente coincide com a variedade falada pelas classes sociais altas, de determinadas regiões geográficas.
A avaliação social das variedades lingüísticas é um fato observável em qualquer comunidade da fala. Freqüentemente, ouvimos falar em línguas “simples”, “inferiores”, “primitivas”. Para a Lingüística – ciência da linguagem – esse tipo de afirmação carece de qualquer fundamento científico. Toda língua é adequada à comunidade que utiliza, é um sistema completo que permite a um povo exprimir o mundo físico e simbólico em que vive. Assim como não existem línguas “inferiores”, não existem variedades lingüísticas “inferiores”. As línguas não são homogêneas e a variação observável em todas elas é produto de sua história e do seu presente. Em que se baseiam, então, as avaliações sociais? Podemos afirmar que os julgamentos sociais ante a língua – ou melhor, as atitudes sociais – se baseiam em critérios não lingüísticos: são julgamentos de natureza política e social. Não casual, portanto, que se julgue “feia” a variedade dos falantes de origem rural, de classe social baixa, com pouca escolaridade, de regiões culturalmente desvalorizadas. Consideramos, por exemplo, o r caipira “desagradável”, mas usamos esse mesmo som para falar “car” (carro) em inglês sem achar “feio”. Em resumo, julgamos não a fala, mas o falante, e o fazemos em função de sua inserção na estrutura social.


A Língua Padrão muda no tempo

Este é um fato elementar para quem quer entender as línguas: todas as línguas mudam ao longo do tempo. As formas lingüísticas consideradas pa­drões, principalmente na escrita, são mais resistentes à mudança - porque vivem sob controle severo! - mas também mudam. Vejamos algumas conseqüências que decorrem da mudança.
Uma delas é a relativa imprecisão de suas características. Um exemplo bastante visível é o caso da regência de alguns verbos. Há uma tendência mui­to forte na linguagem oral do português brasileiro de tornar transitivos dire­tos alguns verbos que tradicionalmente eram transitivos indiretos (Assisti um filme, por exemplo, em vez de Assisti a um filme). Nesses casos, a tendência já está passando à escrita, e talvez seja muito mais freqüente o emprego "errado" que o emprego "certo", mesmo em textos de boa qualidade, escritos por bons escritores ou jornalistas. Uma evidência dessa mudança na língua padrão é o fato de que estes verbos tornados transitivos diretos passaram a ocorrer com freqüência na escrita padrão na forma passiva, impossível sintaticamente com verbos transitivos indiretos (O jogo Brasil x Argentina foi assistido por milhões de telespectadores dos dois países; ou A Constituição nem sempre tem sido obedecida pelas autoridades federais).
Quando o uso chega a esse ponto, pode-se dizer que a mudança de padrão começa a se consolidar. Outro caso visível é a colocação dos pronomes no português brasileiro, que insiste sistematicamente em recusar algumas normas das gramáticas escolares. Na fala, o padrão de Portugal (que determinou na origem o do Brasil) desapareceu quase que por completo. Na escrita mantém-se mais visivelmente apenas a regra de não se começar período com pronome átono, mas mesmo esta é rompida em textos mais informais e nos textos literários.
Em outros casos, a resistência é muito mais forte. Veja-se, por exemplo, o fenômeno da concordância nos casos em que o sujeito aparece de­pois do verbo, do tipo foram inauguradas as usinas. Na língua oral - e isso mesmo nas faixas mais escolarizadas da população - há uma tendência sis­temática a não fazer a concordância (Foi inaugurado as usinas). Mas aqui a transformação não chegou ao padrão escrito de prestígio, embora seja fre­qüentíssima em textos escolares, o que costuma ser sintoma de que a mu­dança está avançando significativamente.
Outro aspecto que decorre da mudança da língua ao longo do tempo é a convivência (nem sempre pacífica!) entre formas arcaicas e formas con­temporâneas, isto é, as mudanças nunca acontecem subitamente. Pouco a pouco, as "novidades" (ou os "erros", dependendo do ponto de vista...) vão se popularizando e disseminando até o momento em que ninguém mais consegue perceber a nova forma como erro - exceto, é claro, os gramáticos, que por mais que reclamem e vociferem não conseguem “segurar” a mudança. Faça um teste: tente convencer pessoas comuns que o certo é dizer Se eu vir fulano, eu o aviso, e não Se eu ver fulano, eu aviso ele. Falar nisso: o padrão é Convencer pessoas que o certo é... ou Convencer pessoas de que o certo é...?

Máris Célis - 1º Colegial Fonética

FONÉTICA
Em sentido mais elementar, a Fonética é o estudo dos sons ou dos fonemas, entendendo-se por fonemas os sons emitidos pela voz humana, os quais caracterizam a oposição entre os vocábulos. Por exemplo, em ‘pato’ e ‘bato’ é o som inicial das consoantes p- e b- que opõe entre si as duas palavras. Tal som recebe a denominação de Fonema. Pelo visto, pode-se dizer que cada letra do nosso alfabeto representa um fonema, mas fica a advertência de que num estudo mais profundo a teoria mostra outra realidade, que não convém inserir nas noções elementares de que estamos tratando. A Letra é a representação gráfica, isto é, uma representação escrita de um determinado som.
CLASSIFICAÇÃO DOS FONEMAS
LETRAS
FONEMAS
EXEMPLOS
A
à (AM, AN) - A
ANTA DO CAMPO - ÁRVORE
B

BOI BRAVO - BALEIA
C
SÊ - KÊ
CERVO – COBRA
D

DROMEDÁRIO - DINOSSAURO
E
Ê – EM, EN - E
ELEFANTE – ENTE – ÉGUA
F

FOCA - FLAMINGO
G
JÊ - GUÊ
GIRAFA – GATO
H
Ø
HIPOPÓTAMO - HOMEM
I
IM - I
ÍNDIO - IGREJA
J

JIBÓIA - JACARÉ
L
LÊ - U
LEÃO - SOL
M
MÊ – (~)
MACACO – CAMBUÍ
N
NÊ – (~)
NATUREZA – PONTE
O
Õ (OM, ON) – O – Ô
ONÇA – AVÓ – AVÔ
P

PORCO - PATO
Q

QUERO-QUERO - QUEIJO
R
RRÊ – RÊ
RATO BURRO – ARARA
S
SÊ – ZÊ – Ø
SAPO – CASA – NASCER
T

TATU - TUBARÃO
U
U – UM, UN
URUBU – ATUM
V

VACA - VEADO
X
XÊ – ZÊ – SÊ – Ø - KSÊ
XARÉU – EXEMPLO – MÁXIMO – EXCETO - TÁXI
Z

ZEBRA - ZORRO
Tradicionalmente, costuma-se classificar os fonemas em vogais, semivogais e consoantes, com algumas divergências entre os autores.
VOGAIS = a e i o u
As vogais são sons musicais produzidos pela vibração das cordas vocais. São chamados fonemas silábicos, pois constituem o fonema central de toda sílaba.
AS VOGAIS SÃO CLASSIFICADAS CONFORME:
FUNÇÃO DAS CAVIDADES BUCAL E NASAL
Orais = a, e, i, o, u
Nasais = ã, ê, î, õ, û.
ZONA DE ARTICULAÇÃO
Média = a
Anteriores = e, i
Posteriores = o, u
TIMBRE
Abertas = á, é, ó
Fechadas = ê, ô
Reduzidas = fale, hino.
INTENSIDADE
Tônicas = saci, óvulo, peru
Átonas = moço, uva, vida.
SEMIVOGAIS = I U
Só há duas semivogais: I e U, quando se incorporam à vogal numa mesma sílaba da palavra, formando-se um ditongo ou tritongo. Por exemplo: cai-ça-ra, te-sou-ro, Pa-ra-guai.
CARACTERÍSTICAS DAS SEMIVOGAIS:
Ficam sempre ao lado de outra vogal na mesma sílaba da palavra.
São átonas.
CONSOANTES
As consoantes são fonemas que soam com alguma vogal. Portanto, são fonemas assilábicos, isto é, sozinhos não formam sílaba.
B C D F G H J L M N P Q R S T V X Z
ENCONTROS VOCÁLICOS
À seqüência de duas ou três vogais em uma palavra, damos o nome de encontro vocálico. Por exemplo, cooperativa.
TRÊS SÃO OS ENCONTROS VOCÁLICOS:
DITONGO
É a reunião de uma vogal junto a uma semivogal, ou a reunião de uma semivogal junto a uma vogal em uma só sílaba. Por exemplo, rei-na-do.
OS DITONGOS CLASSIFICAM-SE EM:
CRESCENTES = a semivogal antecede a vogal. EX: quadro.
DECRESCENTES = a vogal antecede a semivogal. EX: rei.
OBSERVAÇÕES:
Sendo aberta a vogal do ditongo, diz-se que ele é oral aberto. Ex: céu.
Sendo fechada, diz-se que é oral fechado. Ex: ouro.
Sendo nasal, diz-se que é nasal. Ex: pão.
Após a vogal, as letras E e O, que se reduzem, respectivamente, a I e U, têm valor de semivogal. Ex: mãe; anão.
TRITONGO
É o encontro, na mesma sílaba, de uma vogal tônica ladeada de duas semivogais. Ex: sa-guão; U-ru-guai.
Pelos exemplos dados, conclui-se que os tritongos podem ser nasais ou orais.
HIATO
É o encontro de duas vogais que se pronunciam separadamente, em duas diferentes emissões de voz. Por exemplo, mi-ú-do, bo-a-to, hi-a-to.
O hiato forma um encontro vocálico disjunto, isto é, na separação da palavra em sílabas, cada vogal fica em uma sílaba diferente.
SÍLABA
Dá-se o nome de sílaba ao fonema ou grupo de fonemas pronunciados numa só emissão de voz. Quanto ao número de sílabas, o vocábulo classifica-se em:
Monossílabo = possui uma só sílaba. (fé, sol)
Dissílabo = possui duas sílabas. (casa, pombo)
Trissílabo = possui três sílabas. (cidade, atleta)
Polissílabo = possui mais de três sílabas. (escolaridade, reservatório).
TONICIDADE
Nas palavras com mais de uma sílaba, sempre existe uma sílaba que se pronuncia com mais força do que as outras: é a sílaba tônica. Por exemplo, em lá-gri-ma, a sílaba tônica é lá; em ca-der-no, der; em A-ma-pá, pá.
Considerando-se a posição da sílaba tônica, classificam-se as palavras em:
Oxítonas = quando a tônica é a última sílaba. (sabor, dominó)
Paroxítonas = quando a tônica é a penúltima. (quadro, mártir)
Proparoxítonas = quando a tônica é a antepenúltima. (úmido, cálice).
OBS: A maioria das palavras de nossa língua é paroxítona.
MONOSSÍLABOS
ÁTONOS = são os de pronúncia branda, os que têm a vogal fraca, inacentuada. Também são chamados clíticos. Incluem-se na lista dos monossílabos átonos, os artigos, as preposições, as conjunções, os pronomes pessoais oblíquos, as combinações pronominais e o pronome relativo ‘que’. Por exemplo, a, de, nem, lhe, no, me, se.
TÔNICOS = são os de pronúncia forte, independentemente de sinal gráfico sobre a sílaba. Por exemplo, pé, gás, foz, dor.
RIZOTÔNICAS - são as palavras cujo acento tônico incide no radical. Por exemplo, descrevo, descreves, descreve.
ARRIZOTÔNICAS - são as palavras cujo acento tônico fica fora do radical. Por exemplo, descreverei, descreverás, descreverá.
OBS: As denominações rizotônico e arrizotônico dizem respeito especialmente às formas verbais.
ENCONTROS CONSONANTAIS
O agrupamento de duas ou mais consoantes numa mesma palavra denomina-se encontro consonantal. Os encontros consonantais podem ser:
Conjuntos ou inseparáveis, terminados em L ou R. Por exemplo, ple-beu e crô-ni-ca. Exceto = sub-li-nhar.
Disjuntos ou separáveis por vogal não representada na escrita, mas que é percebida, na pronúncia, entre as duas consoantes. Por exemplo, rit-mo, ad-mi-rar, ob-je-ti-vo.
DÍGRAFOS
São duas letras que representam um só fonema, sendo uma grafia composta para um som simples. Há os seguintes dígrafos:
os terminados em H, representados pelos grupos ch, lh, nh. Por exemplo, chave, malha, ninho.
os constituídos de letras dobradas, representados pelos grupos rr e ss. Por exemplo, carro, pássaro.
os grupos gu, qu, sc, sç, xc, xs. Por exemplo, guerra, quilo, nascer, cresça, exceto.
as vogais nasais em que a nasalidade é indicada por m ou n, encerrando a sílaba por em uma palavra. Por exemplo, pomba, campo, onde, canto, manto.
não há como confundir encontro consonantal com dígrafo por uma razão muito simples: os dígrafos são consoantes que se combinam, mas não formam um encontro consonantal por constituírem um só fonema.
ACENTUAÇÃO
COLOCAÇÃO
CRASE
ORTOGRAFIA
PONTUAÇÃO

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Acordo Ortogáfico

Moçada, depois de tantas discussões, a nossa tarefa, agora, é incorporar as mudanças da Língua de maneira significativa e tranquila. Segue um link de um site bacana sobre o assunto. Como dica fica o download do acordo num folheto da Michaellis, bons estudos!!!


http://educacao.ig.com.br/acordo_ortografico/

Quem é? Responda e concorra a brindes... vc tem uma semana!!!




segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

3º Colegial - Máris Célis - 2ª fase Modernista Poesia - Carlos D. de Andrade

LITERATURA
ENSINO MÉDIO
PROFESSORA DANIELLE MEDICI
2ª FASE MODERNISTA – POESIA (1930-1945)
ØDepois da fase heróica do modernismo brasileiro, que realizou a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, lutando para implantar no país as inovações das vanguardas européias, surge uma geração de poetas e romancistas das mais férteis e ricas em toda a história da literatura brasileira.
ØOs modernistas de 22 abriram o caminho para que os novos escritores pudessem criar em liberdade, livres das amarras formais do academicismo e preocupados com a realidade brasileira.
ØSurgem, assim, durante a década de 30, romancistas regionalistas, como Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado, que chamam a atenção para os problemas sociais das regiões mais carentes do Brasil, utilizando-se da linguagem coloquial e crítica herdada dos primeiros modernistas. Já os poetas não se pautam mais por uma atitude programática, e sim pela possibilidade de criação em todas as direções, utilizando tanto o verso livre, o "poema-piada" e as ousadias da geração de 22, quanto as formas fixas, como o soneto, a metrificação e as rimas da poesia mais tradicional.

POESIA – 2ª FASE MODERNISTA
Ø Alguns dos poetas surgidos na década de 30 viveram de perto a movimentação revolucionária de 1922. Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes publicaram poemas no maior órgão de divulgação das idéias vanguardistas, a Revista de Antropofagia (1928-29), de Oswald de Andrade e Antônio de Alcântara Machado. Participam, portanto, ainda que como coadjuvantes, da fase heróica do modernismo.
Ø O poema No meio do caminho, de Drummond, haveria de se converter no maior símbolo deste momento de ruptura com a literatura passadista.
Ø Outros carregam uma herança indisfarçável do simbolismo, como Cecília Meireles; do romantismo, como Vinicius de Moraes e Augusto Frederico Schmidt; ou mesmo da poesia parnasiana, como Jorge de Lima.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o Nasceu em Itabira, Minas gerais (1902), e morreu no Rio de janeiro (1987). Em 1925, formou-se em Farmácia, mas, sem interesse pela profissão, lecionou Geografia e Português, dedicando-se também a vida inteira ao jornalismo. Em 1928, ingressou no funcionalismo público, tendo exercido, ente outros cargos a chefia de gabinete do ministro da Educação Gustavo Capanema.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Características de suas obras:
o Íntima ligação com seu próprio tempo;
o Humor irônico e antilirismo (influências modernistas presentes em suas primeiras obras);
o Liberdade estética – tudo era permitido, todo caminho era válido.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
NO MEIO DO CAMINHO
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o 1ª FASE: 1930
Ø Livro Alguma Poesia:colocação do poeta em um primeiro plano, autocentralização poética.
Ø Esta primeira fase de sua obra é marcada por poemas irônicos, breves e coloquiais, como Quadrilha, Cota Zero, Cidadezinha Qualquer ou No meio do caminho, em que a vinculação ao primeiro momento do modernismo brasileiro é patente.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Poema de Sete Faces

Quando nasci um anjo torto
desses que vive na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
Que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
Não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de peras:
Pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o 2ª FASE – 1940
Ø Livro: Sentimento do mundo
Ø Sua poesia parece tomar consciência do mundo ao seu redor, preocupando-se em refletir sobre os acontecimentos (Guerra e Ditadura),o poeta praticou uma poesia de engajamento político, na qual a esperança parecia querer compensar o pessimismo que o momento histórico impunha.
Ø A linguagem assumida agora pelo poeta tentava ser mais comunicativa, direta, clara, coerente com a tentativa de tornar sua obra uma tradução das dores dos homens comuns.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
José



E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Ø Livro: A Rosa do Povo
Ø O poeta queria dotar sua poesia da capacidade de apontar caminhos que solucionassem os dilemas mundiais e nacionais. A poesia, parecia assim, ser a resposta para os males do universo.
Ø Outras características da produção de 40: as referências históricas, a politização, a poesia como resistência, a esperança e o pessimismo.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Flor e a Náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me. Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me? Olhos sujos no relógio: não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo ainda é de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse. Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos. O sol consola os doentes e não os renova. As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase. Vomitar esse tédio sobre a cidade. Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado. Nenhuma conta escrita nem recebida. Todos os homens voltam para casa. Estão menos livres, mas levam jornais e soletram o mundo sabendo que o perdem. Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi. Alguns ache belos, foram publicados. Crimes suaves, que ajudam a viver. Ração diária do erro, distribuída em casa. Os ferozes padeiros do mal. Os ferozes leiteiros do mal.
Por fogo em tudo, inclusive em mim. Ao menino de 1918 chamavam anarquista. Porém meu ódio é o melhor de mim. Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima. Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor. Sento no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura. Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico. É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o 3ª FASE – 1950
Ø A poesia de Drummond abandona a tonalidade esperançosa, tornando-se amarga e definitivamente pessimista;
Ø O poeta voltou-se para si mesmo, produzindo uma obra de reflexão, hermética e difícil (deixavam perguntas e não mais respostas);
Ø Toda sua crença nas ideologias de esquerda terminam agora, dando lugar ao desencanto, à desesperança, ao desânimo;
Ø Soneto.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Remissão Tua memória, pasto de poesia, tua poesia, pasto dos vulgares, vão se engastando numa coisa fria a que tu chamas: vida, e seus pesares. Mas, pesares de quê? perguntaria, se esse travo de angústia nos cantares, se o que dorme na base da elegia vai correndo e secando pelos ares, e nada resta, mesmo, do que escreves e te forçou ao exílio das palavras, senão contentamento de escrever, enquanto o tempo, em suas formas breves ou longas, que sutil interpretavas, se evapora no fundo do teu ser?
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o 4ª Fase: 1962 ( Livro Lição de Coisas):
Ø Aproximação com as vanguardas estéticas da época- Poesia Concreta.
Ø Retomada de alguns elementos fundamentais dos períodos anteriores: a ironia, o humor, a perspectiva política, o fundo filosofante, o desespero diante do impasse da existência humana;
Ø Economia da linguagem e maneira criativa e fluente (maturidade).
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Amar-amaro
porque amou por que amou
se sabia
proibido passear sentimentos
ternos ou desesperados
nesse museu do pardo indiferente
me diga: mas por que
amar sofrer talvez como se morre
de varíola voluntária vágula evidente?


ah PORQUE AMOU
e se queimou
todo por dentro por fora nos cantos ecos
lúgubres de você mesm(o,a)
irm(ã,ão) retrato espetáculo por que amou?
se era par
ou era por
como se entretanto todavia
toda via mas toda vida
é indignação do achado e aguda espostejação
da carne do conhecimento, ora veja
permita cavalheir(o,a)
amig(o,a) me releve
este malestar
cantarino escarninho piedoso
este querer consolar sem muita convicção
o que é inconsolável de ofício
a morte é esconsolável consolatrix
consoadíssima
a vida também
tudo também
mas o amor car(o,a) colega este não
consola nunca de núncaras.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o A partir de 1960, Drummond vale-se de uma característica que ia acompanhar-lhe até o final da vida; o erotismo.
o Obras-primas:
Ø Brejo das almas (1934)
Ø Sentimento do Mundo (1940)
Ø A rosa do povo (1945)
Ø Fazendeiro do ar (1954)
Ø Boitem=po (1968)
Ø As impurezas do branco (1973)
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o Antologia Poética (1962)
Ø Antologia Poética, de Carlos Drummond de Andrade, traz uma coletânea de poesias organizada, na década de 1960, pelo próprio Drummond. O livro é o espelho fiel de seu trabalho, atestando sua crença fervorosa "na beleza da palavra e no texto elaborado com arte".Ao organizar a sua Antologia poética, Drummond optou por apresentá-la em certos núcleos temáticos, que seriam, segundo suas próprias palavras, certas características, preocupações ou tendência que a condicionam ou definem em conjunto. A Antologia lhe pareceu assim mais vertebrada e, por outro lado, espelho mais fiel.Drummond não teve em mira, propriamente, selecionar poemas pela qualidade, nem pelas fases que acaso se observem em sua carreira poética. Encontramos assim, como pontos de partida ou matéria de poesia:1 - O Indivíduo: O eterno conflito entre o eu e o social.2 - A terra natal: Itabira saudades e vivências.3 - A família: Itabira e vivências íntimas do menino.4 - Amigos: Homenagem aos amigos reais ou intelectuais.5 - O choque social: A violência humana.6 - O conhecimento amoroso: O amor altruísta (como só ele poderia existir).7 - A própria poesia: metalinguagem.8 - Exercícios lúdicos: A conseqüência do amar e desamar.9 - Uma visão, ou tentativa de, a existência: O estar no mundo.

2ª Fase Modernista - Poesia 3º Colegial Máris Célis

ENSINO MÉDIO
PROFESSORA DANIELLE MEDICI
COLÉGIO MARIS CÉLIS
n 2ª FASE MODERNISTA –
POESIA (1930-1945)

Vinícius de Moraes
O poeta Eros


Nasceu (1912) e morreu (1980) no Rio de Janeiro;
Bacharel em Letras e Direito;
Dedicou-se à crítica cinematográfica e musical (Bossa Nova);
Obra:
Duas fases:
No início da carreira até 1940:
- Objetivo de sua poesia: realidade transcendental (espiritualidade e misticismo);
- Busca do essencial, do sublime, da elevação espiritual através do abandono da matéria
- Versos longos, cheios de imagens abstratas e indecifráveis;
- Imagem da mulher associada ao “pecado”;
- Ex. Texto “A volta da mulher morena”

Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos
da mulher morena
Que os olhos da mulher morena estão me
envolvendo
E estão me despertando de noite...

2ª Fase: Novos poemas (1938);
Cinco Elegias (1943);
Poemas, sonetos e baladas (1946);
- A atmosfera carregada de sua poesia anterior cedeu lugar à ironia, ao humor e à malícia;
- Temática: o dia-a-dia, cotidiano;


- O artista volta-se para o mundo ao seu redor;
- Buscando ainda o sublime, a essência, o poeta foi encontrá-los no próprio cotidiano;
- A figura feminina agora é divinizada, considerada a manifestação mais perfeita de Deus entre os homens;
- Acréscimo de fortes doses de erotismo;
- Versos mais livres e leves;
- Coloquialidade;
- Soneto (Camões);
Ex. Soneto de Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E da mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez de contente

Fez de amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Música Popular:
- Contribuiu para o estreitamento de relações entre a cultura popular e a erudita;
- Junto com Antônio Carlos Jobim e com João Gilberto fundou a Bossa Nova;

Obras-primas:
- O caminho para a distância (1933)
- Forma e exegene (1935)
- Livro de sonetos (1957)
- Para viver um grande amor (1962)

Cecília Meireles
A poeta de essências
Delicadas e sutis

Cecília nasceu (1901) e morreu (1964) no Rio de Janeiro;
Professora primária e universitária;
Recebeu o prêmio de poesia da ABL;
Características de sua obra:
- Intimismo, espiritualismo;
- Temática da solidão (o mar assume papel de representação simbólica do abandono, do obstáculo intransponível);
- Imagens abstratas e imateriais;
- Exploração da musicalidade (simbolismo);
- Temática: universo que existe além da realidade, invisível para aqueles que não são dotados de sensibilidade poética;
- Ex. “Distância”
Quem sou eu, a que está nessa varanda,
Em frente deste mar, sobre as estrelas,
Vendo vultos andarem?

Sabem, acaso, os vultos, quem vão sendo?
Sentem o céu, sentem as águas, quando passam?
Ou não vêem, ou não lembram?

Como alguém deste mundo para a Lua
Dirige os olhos, meditando coisas
E assim no vago mira

_ Para este mundo vão meus pensamentos,
Tão estrangeiros, tão desapegados,
Como se esta varanda fosse a Lua.


- Texto mais famoso: Romanceio da Inconfidência (1953);
- A autora recupera e o ambiente, as sensações envolvidas na revolta de Minas Gerais no final do século XVIII;
- Valores simbólicos:
* A busca do ouro representa a cobiça;
• A conspiração, o fracasso;
• As prisões, situações de medo;
• As punições, o desengano da derrota política.

Obras-primas:
- Espectros (1919)
- Viagem (1939)
- Mar absoluto ( 1945)
- Retrato Natural (1949)
- Romanceio da Inconfidência (1953)
- Poemas escritos na Índia (1961)


Murilo Mendes
O poeta surrealista

- Nasceu em Juiz de Fora (1901) e morreu em Lisboa (1975);
- Exerceu várias atividades: prático de dentista, professor de Literatura, inspetor federal de ensino;
- Converteu-se ao catolicismo (reflexo em suas obras);
- Tendo preferido deixar-se levar, exclusivamente, pela inspiração acabou por se caracterizar sempre renovado;
- Livro ‘Histórias do Brasil’: satiriza o país;
‘Tempo e Eternidade’: assume sua conversão ao catolicismo;

‘Poesia em Pânico’: insegurança;
‘Liberdade’: volta a acreditar nos homens e em si mesmo.
Textos: Carta de Pero Vaz;
A anunciaçao;
Pré-história;

Angústia e reação

Há noites instransponíveis
Há dias em que para nosso movimento em Deus
Há tardes em que qualquer vagabunda
Parece mais alta do que a própria musa.
Há instantes em que um avião
Nos parece mais belo que um mistério de fé,
Em que uma teoria política
Tem mais realidade que o Evangelho.
Em que Jesus foge de nós, foi para o Egito:
O tempo sobrepõe-se à ideia do eterno.
É necessário morrer de tristeza e de nojo
Por viver num mundo aparentemente abandonado por Deus.
E ressuscitar pela força da prece, da poesia e do amor.

É necessário multiplicar-se em dez, em cinco mil.
É necessário chicotear os que profanam as igrejas
É necessário caminhar sobre as ondas.

Murilo Mendes

Canção do Exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia
Onde cantam gaturanos de Veneza.
Os poetas da minha terra
São pretos que vivem em torres de ametista,
Os sargentos do exército são monistas, cubistas,
Os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
Com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
Em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas mais gostosas
Mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
E ouvir um sabiá com certidão de idade!
Murilo Mendes

Jorge de Lima
O poeta profeta


Nasceu em União dos Palmares (AL), 1895, morreu no Rio de Janeiro em 1953;
Exerceu a medicina e o magistério, foi deputado em Alagoas e vereador no Rio.


- Como poeta, não se preocupou em enquadra-se na fórmula poética vigente; escreveu obedecendo a seus próprios princípios;
- 1ª fase: herança Parnasiana (Soneto)
- 2ª fase: identificação com as raízes pátrias (volta è infância, cultura negra);
- 3ª fase: poesia religiosa (catolicismo);
- 4ª fase (Épica): maturidade, reinventa Camões;
Texto: Invensão de Orfeu

Olá! Negro
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
E a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor
Tentarão apagar tua cor!
E as gerações dessas gerações quando apagarem
A tua tatuagem execranda,
Não apagarão de suas almas, a tua alma, negro!
Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi
Negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
Negro cabinda, negro congo, negro ioruba
Negro que fostes para o algodão de USA
Para os canaviais do Brasil,
Para o tronco, para o colar de ferro, para a canga
De todos os senhores do mundo:
Eu melhor compreendo agora os teus blues
Nesta hora triste da raça branca, negro!
Olá! Negro! Olá! Negro
(...)
Jorge de Lima

1º e 3º Colegial CECI - Introdução à Literatura

ENSINO MÉDIO – AULA 1: TEORIA LITERÁRIA

NOÇÕES BÁSICAS:
O QUE É LITERATURA?
“Arte literária é mimese(imitação); é a arte que imita pela palavra.” (Aristóteles,séc.IV a.c.)
Assim:
• Literatura como imitação da realidade;
• Manifestação artística;
• A palavra como matéria-prima;
• Manifestação da expressividade humana.
FUNÇÕES DA LITERATURA:
• Função evasiva – fuga da realidade;
• Função lúdica – jogo de experiências sonoras e de relações surpreendentes;
• Função de “Arte pela arte” – descompromissada das lutas sociais (Parnasianismo)
• Função de literatura “engajada” – comprometida com a defesa de certas idéias políticas.
Nosso interesse está na literatura dita “canonizada” – conj. de obras escritas e aceitas como artisticamente valiosas e representativas de nossa herança cultural.
Ex. “Dom Casmurro”, de Machado de Assis; “Vidas secas”, de Graciliano Ramos; “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, dentre outras.

LITERATURA É A ARTE DA LINGUAGEM ESCRITA, QUE EXPLORA TODAS AS POTENCIALIDADES DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO E É CAPAZ DE TRANSPOR LIMITES DE TEMPO E ESPAÇO.

DIFERENÇAS ENTRE UM TEXTO LITERÁRIO E UM NÃO-LITERÁRIO:

Texto Literário:

· ênfase na expressão;
· linguagem conotativa;
· linguagem mais pessoal, emotiva;
· recriação da realidade;
· ambigüidade – recurso criativo.
Texto não-literário:

• ênfase no conteúdo;
• linguagem denotativa;
• linguagem mais impessoal;
• realidade apenas traduzida;
• Normalmente sem ambigüidade ou duplas interpretações.

Quanto à disposição gráfica, um texto literário pode ser:
Prosa: em linhas “corridas”.
Poesia (verso): a cada linha dá-se o nome de verso e ao conjunto deles, estrofe.

Estilo individual: é o estilo único de determinado escritor, ou seja, sua visão única e modo próprio de criação literária.

Estilo de época: características comuns em obras de autores diferentes,mas contemporâneos. Ex. embora Bernardo Guimarães e José de Alencar tenham estilos diferentes, ambos pertencem ao Romantismo.

Escolas literárias: (ou estilos de época)
• Quinhentismo – (1500 – 1601)
• Barroco – (1601 – 1768)
• Arcadismo – (1768 – 1836)
• Romantismo – (1836 – 1881)
• Realismo/Naturalismo/Parnasianismo – ( 1881 – 1922)
• Simbolismo – (1893 – 1922)
• Pré-modernismo – (1902 – 1922)
• 1ª ger. Modernista – (1922 – 1930)
• 2ª ger. Modernista – (1930 – 1945)
• 3ª ger. Modernista – (1945 – 1960)
• Literatura contemporânea – (1960 – até nossos dias)

GÊNEROS LITERÁRIOS:

Conjuntos de elementos semânticos, estilísticos e formais utilizados pelos autores em suas obras, para caracteriza-las de acordo com a sua visão da realidade e o público a que se destinam.

Lírico: sentimental, poético.
Épico: narrativo.
Dramático: teatro.

GÊNERO LÍRICO: é a manifestação literária em que predominam os aspectos subjetivos do autor. É, em geral, a maneira de o autor falar consigo mesmo ou com um interlocutor particular (amigo, amante, fantasia, elemento da natureza, Deus...)

Não confundir “eu-lírico” com o autor. O “eu-lírico” ou “eu-poético” é uma espécie de personalidade poética criada pelo autor que dá vazão a sensações e/ou impressões.

ELEMENTOS DA VERSIFICAÇÃO: Elementos técnicos que auxiliam a leitura, a interpretação e a análise de textos poéticos.
Verso e Estrofe:
Cada linha = verso Conjunto de versos = estrofe

Classificação das estrofes:
• Dísticos = 2 versos
• Tercetos = estrofes com 3 versos
• Quartetos = 4 versos
• Oitavas = 8 versos
• Décimas = 10 versos
• Soneto: composição poética de 14 versos = 2 quartetos e 2 tercetos

Rimas: coincidência de sons (total ou parcial) entre palavras no final ou no meio dos versos.
Classificação das rimas:
• Quanto à categoria gramatical:

POBRES: as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical.

Exemplo: ........................situado (adjetivo)
........................cresce (verbo)
........................parece (verbo)
........................quebrado (adjetivo)
RICAS: as palavras que rimam pertencem a classes gramaticais distintas.

Exemplo: .....................arde (verbo)
.....................distante (advérbio)
.....................diamante (substantivo)
.....................tarde (substantivo)


• Quanto à disposição ao longo do poema:

ALTERNADAS ou CRUZADAS:

Incendeia A
Coração B
Passeia A
Canção B

PARALELAS ou EMPARELHADAS

Aniquilar A
Olhar A
Montanhas B
Entranhas B

INTERPOLADAS ou OPOSTAS

Espelho A
Disfarce
Disfarçar-se
Conselho? A

Versos brancos são os que não apresentam rima.

Métrica: É o número de sílabas poéticas do verso.
Na contagem das sílabas métricas (escansão), observam-se, geralmente, as seguintes normas:
• A leitura de um verso deve ser caracterizada pelo ritmo;
• Faz-se a contagem de sílabas até a sílaba tônica da última palavra;
• Acomodar as sílabas seguindo a entonação. Elisão = supressão de sons ou a sinalefa = acomodação de vários sons a uma única sílaba métrica).
• Os ditongos, em geral, equivalem a apenas uma sílaba métrica;
• Normalmente, quando uma palavra termina em vogal e a outra começa por vogal, unem-se esses fonemas numa única sílaba métrica.

Pentassílabos ou redondilha menor (5 sílabas)

Heptassílabos ou redondilha maior (7 sílabas)
Eneassílabos = 9 sílabas
Dodecassílabo ou alexandrino: 12 sílabas poéticas
Versos livres são os que não apresentam métrica regular.

Ritmo: a musicalidade implícita ou explícita no poema.

GÊNERO DRAMÁTICO: textos para serem representados no palco.
• Tragédia: fato trágico que provoca reação de medo ou compaixão. Ex. “Édipo Rei”, de Sófocles.
• Comédia: satirização dos costumes sociais. Ex. “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade.
• Drama: envolve a tragédia e a comédia. Ex. “Eles não usam black-tie”, de G. Guarnieri.
• Farsa: pequena peça que critica a sociedade e seus costumes. Ex. A Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente.
• Auto: peça breve, de tema religioso ou profano, de aspecto moralista. Ex. Auto da Barca da Glória, de Gil Vicente.

2º Colegial - CECI 2009- Realismo em Portugal

O Realismo e o Naturalismo em Portugal

Professora Danielle Medici

“Apaixonada ‘como nunca’ pelo marido, ela transforma-se em criada, a mando de Juliana, até Jorge pegá-la em flagrante e demitir a empregada. Luísa, depois de rezar, jogar na loteria, e até mesmo de tentar se entregar a um banqueiro para conseguir o dinheiro da chantagem, conta seu segredo a Sebastião, um amigo de Jorge, que promete ajudá-la.”

REALISMO EM PORTUGAL
l Realismo na literatura
l Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época, os escritores realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua totalidade. Não bastava mostrar a face sonhadora e idealizada da vida como fizeram os românticos; era preciso mostrar a face nunca antes revelada: a do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da impotência do homem comum diante dos poderosos. Em lugar do egocentrismo romântico, verifica-se um enorme interesse de descrever, analisar e até em criticar a realidade. A visão subjetiva e parcial da realidade é substituída pela visão que procura ser objetiva, fiel, sem distorções. Em lugar de fugir à realidade, os realistas procuram apontar falhas como forma de estimular a mudança das instituições e dos comportamentos humanos. Em lugar de heróis, surgem pessoas comuns, cheias de problemas e limitações. Na Europa,o realismo teve início com a publicação do romance realista Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert.
REALISMO EM PORTUGAL
l Contexto Histórico
- 1865: progresso e desenvolvimento;
- Substituição de sua cultura clérico-aristocrática por uma cultura laica, burguesa, tendo como público a massa alfabetizada;
- Estagnação a partir de 1891, crise dos setores avançados “Geração de 70”.
REALISMO EM PORTUGAL
l QUESTÃO COIMBRÃ E AS CONFERÊNCIAS DO CASSINO LISBONENSE – 1865
- Polêmica que se estabeleceu entre os românticos, defensores do status quo literário, e os jovens revolucionários de Coimbra, dentre os quais se destacaram Antero de Quental,Teófilo Braga e Eça de Queirós;
- “Cenáculo”;
- 1875 “O crime do padre Amaro” – Eça de Queirós;
REALISMO EM PORTUGAL
l Eça de Queirós é apontado como o autor que introduz este movimento no país, sendo o romance social, psicológico e de tese a principal forma de expressão. Deixa de ser apenas distração e torna-se meio de crítica a instituições, à hipocrisia burguesa (avareza, inveja, usura), à vida urbana (tensões sociais, econômicas, políticas) à religião e à sociedade, interessando-se pela análise social, pela representação da realidade circundante, do sofrimento, da corrupção e do vício. A escravatura, o racismo e a sexualidade são retratados com uma linguagem clara e direta.
REALISMO EM PORTUGAL
l Vida e obra de Eça de Queirós
l Embora haja uma evolução na sua obra, a etapa mais interessante de Eça de Queirós é a realista (O primo Basílio). Com Antero de Quental e Teófilo Braga é um dos representantes do Realismo português.
l Está implicado em questões socio-políticas e literárias, participa em iniciativas ligadas ao Realismo, como é o caso de:
l As Conferências do Casino: nas que se debate sobre a realidade portuguesa e europeia e sobre literatura. O seu objectivo é a difusão do Realismo.
l Questão Coimbrã: assume em certo sentido o debate entre românticos e realistas.
l Da sua atividade profissional destaca:
l Está ligado à advocacia.
l Está muito ligado ao jornalismo:
l Os seus artigos recolhem-se no livro Prosas bárbaras.
l Co-dirige e colabora na publicação periódica As Farpas.
l Funda e dirige a Revista de Portugal.
l Leva a cabo atividades diplomáticas (viaja muito, o que se reflexa na sua obra):
l Trabalha em Leiria, onde teria escrito O crime do Padre Amaro (ambientada em Leiria na segunda metade do século XIX).
l É colocado no consulado português da Havana.
l Posteriormente irá para Inglaterra:
¡ Começaria ali O primo Basílio e outros projectos.
¡ Envia colaborações a jornais portugueses e brasileiros.
l Participa no consulado português na França, desde onde publica algumas das suas obras.
REALISMO EM PORTUGAL
l Evolução
¡ Fase realista, a mais importante:
l Está influenciado por Balzac, Zola e Flaubert, em especial pelos dois últimos. Eça também é crítico literário, pelo que conhece muito bem os realistas franceses e ingleses.
l Busca reflectir a realidade objetivamente, ao detalhe, de jeito impessoal.
l Há uma crítica a Portugal associada à necessidade de “europeizar” Portugal.
l A esta etapa pertencem as suas obras principais:
¡ Uma campanha alegre (1871)
¡ O crime do Padre Amaro (1875 – 1876)
¡ O primo Basílio (1878)
¡ O mandarim (1880)
¡ A relíquia (1887)
¡ Os maias (1888)
Fase social-nacionalista: Eça está decepcionado já que não conseguiu o seu objetivo e troca a sua atitude, agora quer salvar a Portugal baseando-se nas suas raízes e buscando aí um presente e um futuro satisfatórios. Não temos de esquecer que neste momento Portugal também o compõem os territórios africanos. As obras desta etapa são Últimas páginas (1912), na que defende Portugal face a Europa ridiculizando Paris, ou A cidade e as serras (1901).
Outras publicações: colaborações em jornais, obras póstumas...
REALISMO EM PORTUGAL
l O crime do Padre Amaro (1875 – 1876)
l Obra realista escrita em Leiria e pela que é acusado de ter plagiado La faute de l’Abbé Mouret de Zola, mas ainda que o título seja parecido e as duas sejam obras satíricas, a intriga é totalmente distinta. O autor retoca-a muitas vezes. As principais características desta obra são:
¡ Descreve:
l A hipocrisia do clero de províncias na 2ª metade do século XIX (celibato, preocupações materialistas...).
l A falta de palavra dos caciques políticos.
l A subserviência[1] dos comerciantes.
l A bisbilhotice[2] vingativa dos jornalistas.
l A vontade de criar escândalo.
l A piedade supersticiosa e jansenista das devotas.
¡ O comportamento das personagens está condicionado por:
¡ A hereditariedade, como é o caso de Amélia (a mãe tinha uma relação com um sacerdote e ela também).
¡ A educação.
¡ O meio (provinciano, fechado, conservador e hipócrita).
REALISMO EM PORTUGAL
l O Primo Basílio (1878)
l É um romance realista cujas principais características são:
¡ Descrição de interiores muito detalhada já que se ambienta numa casa, um espaço fechado. O ambiente determina a personalidade das personagens.
¡ Crítica à sociedade da capital, a hipocrisia da alta burguesia.
¡ Crítica à literatura romântica: Luísa está transtornada pela leitura de literatura romântica, obsessão que aproveita o seu primo Basílio, quem finge ser um galão romântico diante dela. Luísa é transvestida numa heroína romântica que acaba morrendo, feito que a Basílio lhe é indiferente.
l Os maias (1888)
l É uma das suas obras mais conhecidas. Critica a alta burguesia lisboeta (subornos, vingança, incesto, adultério....)
l Finalidade da sua obra realista
l A literatura realista de Eça de Queirós faz parte dum programa socio-político que consiste em criticar a sociedade para corrigi-la. Eça diz que a obra de arte e como um livro de anatomia: tem de analisar a sociedade como num livro de anatomia se analisa o corpo humano. Assim, critica:
¡ O clero e a sua influência nas pessoas.
¡ A média e alta burguesia lisboeta.
¡ A literatura jornalística e o jornalismo em geral.
¡ O comércio, a política, a literatura, povo...
l

REALISMO EM PORTUGAL
l - Socialismo, cientificismo, evolucionismo, positivismo, lutas antiburguesas, 2ª Rev. Industrial;
l Em 1881, com a publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, inicia-se o Realismo no Brasil.
l No Brasil: abolição, República, romance naturalista, poesia parnasiana.
l Características do Realismo:
l Objetivismo;
Descrições e adjetivações objetivas;
l Linguagem culta e direta;
l Mulher não idealizada; real. Ex.: Marcela e Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas), Sofia (Quincas Borba)...
l Amor e outros interesses subordinados aos interesses sociais;
l Herói problemático;
l Narrativa lenta, tempo psicológico;
l Personagens trabalhados psicologicamente.
REALISMO EM PORTUGAL
l DIFERENÇAS ENTRE REALISMO E NATURALISMO
l REALISMO
l - Forte influência da literatura de Gustave Flaubert (França).
l - Romance documental, apoiado na observação e na análise.
l - A investigação da sociedade e dos caracteres individuais é feita “de dentro para fora”, por meio de análise psicológica capaz de abranger sua complexidade, utilizando a ironia, que sugere e aponta, em vez de afirmar.
l - Volta-se para a psicologia, centrando-se mais no indivíduo.
l - As obras retratam e criticam as classes dominantes, a alta burguesia urbana e, normalmente, os personagens pertencem a esta classe social.
l - O tratamento imparcial e objetivo dos temas garante ao leitor um espaço de interpretação, de elaboração de suas próprias conclusões a respeito das obras.
l Naturalismo
l - Forte influência da literatura de Émile Zola (França).
l - Romance experimental, apoiado na experimentação e observação científica.
l - A investigação da sociedade e dos caracteres individuais ocorre “de fora para dentro”, os personagens tendem a se simplificar, pois são vistos como joguetes, pacientes dos fatores biológicos, históricos e sociais que determinam suas ações, pensamentos e sentimento.
l - Volta-se para a biologia e a patologia, centrando-se mais no social.
l - As obras retratam as camadas inferiores, o proletariado, os marginalizados e, normalmente, os personagens são oriundos dessas classes sociais mais baixas.
l - o tratamento dos temas com base em uma visão determinista conduz e direciona as conclusões do leitor e empobrece literariamente os textos.

2º Colegial - CECI 2009 - Realismo: Introdução

REALISMO Professora Danielle Medici
REALISMO
¡ Positivismo – Augusto Conte (1850)
Só devem ser considerados como existentes os fatos positivos, quer dizer, aqueles que podem ser analisados cientificamente.
¡ Determinismo – Taine
O comportamento humano, e portanto da obra de arte que o investiga, é determinado pela confluência de três fatores: o meio, a raça e o momento histórico.
REALISMO
¡ Evolucionismo – Darwin (1859)
Na evolução das espécies, há uma seleção natural que faz os mais fortes derrotarem os mais fracos.
¡ Socialismo – Proudhon, Marx e Engels
Na luta de classes, o poder burguês tende a ser superado pelo poder do proletariado.
REALISMO
¡ Negação do Cristianismo – Renan
A crença absoluta nas conquistas das ciências – em detrimento da perspectiva religiosa como um todo, e do Cristianismo em particular – para explicar o universo.
REALISMO
¡ Surgimento
França, século XIX:
Realismo; Naturalismo e Parnasianismo.
REALISMO:
Madame Bovarri de Gustave Flaubert, 1857.
Obra que tematiza o adultério feminino e questina os males do casamento;

REALISMO
ROMANTISMO (1836-1881)
- Ênfase na fantasia;
- Predomínio da emoção;
- Proximidade emocional entre autor e os temas;
- Subjetividade;
- Escapismo (literatura como fuga da realidade);
- Personagens idealizados;
- Nacionalismo;
Ø REALISMO (1881 – 1893)
- Ênfase na realidade;
- Predomínio da razão;
- Distanciamento racional entre o autor e os temas;
- Objetividade;
- Engajamento (literatura como forma de transformar a realidade)
- Retrato fiel das personagens;
- A mulher numa visão real, sem idealizações...
- Universalismo.
REALISMO
Características do Realismo:
¡ Objetivismo;
Ø Descrições e adjetivações objetivas;
Ø Linguagem culta e direta;
Ø Mulher não idealizada; real. Ex.: Marcela e Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas), Sofia (Quincas Borba)...
Ø Amor e outros interesses subordinados aos interesses sociais;
Ø Herói problemático;
Ø Narrativa lenta, tempo psicológico;
Ø Personagens trabalhados psicologicamente.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Para sempre... Clarice!

Clarice Lispector

Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores, ainda que os textos confessionais aqui coligidos possibilitem reveladores vislumbres de sua densa personalidade. A descoberta do amor
“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez. Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.Pois juro que a vida é bonita.”Temperamento impulsivo
“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade. Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”Lúcida em excesso
“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”.Ideal de vida
“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser. O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de ‘a protetora dos animais’. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la. [...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.É pouco, é muito pouco.”Escritora, sim; intelectual, não “Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade. [...] Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora? O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.”A síntese perfeita
“Sou tão misteriosa que não me entendo.”A certeza do divino
“Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.”Viver e escrever
“Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranqüila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.” “Não sei mais escrever, perdi o jeito. Mas já vi muita coisa no mundo. Uma delas, e não das menos dolorosas, é ter visto bocas se abrirem para dizer ou talvez apenas balbuciar, e simplesmente não conseguirem. Então eu quereria às vezes dizer o que elas não puderam falar. Não sei mais escrever, porém o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura. O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através da literatura que poderá talvez se manifestar.” “Até hoje eu por assim dizer não sabia que se pode não escrever. Gradualmente, gradualmente até que de repente a descoberta tímida: quem sabe, também eu já poderia não escrever. Como é infinitamente mais ambicioso. É quase inalcançável”.A importância da maternidade “Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”Viver plenamente
“Eu disse a uma amiga: — A vida sempre superexigiu de mim. Ela disse: — Mas lembre-se de que você também superexige da vida. Sim.”Um vislumbre do fim “Uma vez eu irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria. Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”
Textos extraídos do livro Aprendendo a viver, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.

Instituto Maris Celis

Queridos alunos,

Quero participá-los da minha imensa alegria de poder trabalhar com vcs este ano. Tenho certeza de que o sucesso é garantido!!

Contem sempre comigo, aqui, na escola e quando precisarem.

Bjs!!!

2009

Queridos alunos e visitantes,

Esse ano será de muito trabalho e estudo. Espero que por aqui tb, vcs encontrem um espaço para pesquisa e comunicação.

Para qualquer dúvida ou sugestão poderão enviar comentários. As aulas estarão disponíveis a partir do final de fevereiro, quando estaremos encerando os primeiros conteúdos.

Um grande abraço e obrigada pelo prazer da companhia de todos!!!