quarta-feira, 28 de maio de 2008

3º Colegial: 3º fase modernista- João Guimarães Rosa

COLÉGIO INTERATIVO
LITERATURA
ENSINO MÉDIO
PROFESSORA DANIELLE MEDICI


• João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (MG) a 27 de junho de 1908 e era o primeiro dos seis filhos de D. Francisca (Chiquitinha) Guimarães Rosa e de Florduardo Pinto Rosa, mais conhecido por "seu Fulô" comerciante, juiz-de-paz, caçador de onças e contador de estórias.
• Joãozito, como era chamado, com menos de 7 anos começou a estudar francês sozinho, por conta própria. Somente com a chegada do Frei Canísio Zoetmulder, frade franciscano holandês, em março de 1917, pode iniciar-se no holandês e prosseguir os estudos de francês, agora sob a supervisão daquele frade.

• Terminou o curso primário no Grupo Escolar Afonso Pena; em Belo Horizonte, para onde se mudara, antes dos 9 anos, para morar com os avós. Em Cordisburgo fora aluno da Escola Mestre Candinho. Iniciou o curso secundário no Colégio Santo Antônio, em São João del Rei, onde permaneceu por pouco tempo, em regime de internato, visto não ter conseguido adaptar-se — não suportava a comida.
• De volta a Belo Horizonte matricula-se no Colégio Arnaldo, de padres alemães e, imediatamente, iniciou o estudo do alemão, que aprendeu em pouco tempo. Era um poliglota, conforme um dia disse a uma prima, estudante, que fora entrevistá-lo:

• Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração.

• Em 1925, matricula-se na então denominada Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, com apenas 16 anos. Segundo um colega de turma, Dr. Ismael de Faria, no velório de um estudante vitimado pela febre amarela, em 1926, teria Guimarães Rosa dito a famosa frase: "As pessoas não morrem, ficam encantadas", que seria repetida 41 anos depois por ocasião de sua posse na Academia Brasileira de Letras.
• Sua estréia nas letras se deu em 1929, ainda como estudante. Escreveu quatro contos: Caçador de camurças, Chronos Kai Anagke (título grego, significando Tempo e Destino), O mistério de Highmore Hall e Makiné para um concurso promovido pela revista O Cruzeiro. Todos os contos foram premiados e publicados com ilustrações em 1929-1930, alcançando o autor seu objetivo, que era o de ganhar a recompensa nada desprezível de cem contos de réis. Chegou a confessar, depois, que nessa época escrevia friamente, sem paixão, preso a modelos alheios.

• Em 27 de junho de 1930, ao completar 22 anos, casa-se com Lígia Cabral Penna, então com apenas 16 anos, que lhe dá duas filhas: Vilma e Agnes. Dura pouco seu primeiro casamento, desfazendo-se uns poucos anos depois. Ainda em 1930, forma-se em Medicina, tendo sido o orador da turma, escolhido por aclamação pelos 35 colegas.
• Guimarães Rosa vai exercer a profissão em Itaguara, pequena cidade que pertencia ao município de Itaúna (MG), onde permanece cerca de dois anos. Relaciona-se com a comunidade, até mesmo com raizeiros e receitadores, reconhecendo sua importância no atendimento aos pobres e marginalizados, a ponto de se tornar grande amigo de um deles, de nome Manoel Rodrigues de Carvalho, mais conhecido por "seu Nequinha", que morava num grotão enfurnado entre morros, num lugar conhecido por Sarandi.
• Espírita, "Seu Nequinha" parece ter sido o inspirador da figura do Compadre meu Quelemém, espécie de oráculo sertanejo, personagem de Grande Sertão: Veredas.

• Diante de sua incapacidade de por fim às dores e aos males do mundo numa cidade que não tinha nem energia elétrica, segundo depoimento de sua filha Vilma, o autor, sensível como era, acaba por afastar-se da Medicina. Contribuiu também para isso o fato de o escritor ter que assistir o parto de sua mulher, pois o farmacêutico e o médico da cidade vizinha de Itaúna só terem chegado quando Vilma já havia nascido.

• Guimarães Rosa, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, trabalha como voluntário na Força Pública. Posteriormente, efetiva-se, por concurso. Em 1933, vai para Barbacena na qualidade de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Segundo depoimento de Mário Palmério, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, o quartel pouco exigia de Guimarães Rosa – "quase que somente a revista médica rotineira, sem mais as dificultosas viagens a cavalo que eram o pão nosso da clínica em Itaguara, e solenidade ou outra, em dia cívico, quando o escolhiam para orador da corporação". Assim, sobrava-lhe tempo para dedicar-se com maior afinco ao estudo de idiomas estrangeiros; ademais, no convívio com velhos milicianos e nas demoradas pesquisas que fazia nos arquivos do quartel, o escritor teria obtido valiosas informações sobre o jaguncismo barranqueiro que até por volta de 1930 existiu na região do Rio São Francisco.

• Um amigo do escritor, impressionado com sua cultura e erudição, e, particularmente, com seu notável conhecimento de línguas estrangeiras, lembrou-lhe a possibilidade de prestar concurso para o Itamarati, conseguindo entusiasmá-lo. O então Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria, após alguns preparativos, seguiu para o Rio de Janeiro onde prestou concurso para o Ministério do Exterior, obtendo o segundo lugar. Por essa ocasião, aliás, já era por demais evidente sua falta de "vocação" para o exercício da Medicina, conforme ele próprio confidenciou a seu colega Dr. Pedro Moreira Barbosa, em carta datada de 20 de março de 1934:
• Não nasci para isso, penso. Não é esta, digo como dizia Don Juan, sempre 'après avoir couché avec...’ Primeiramente, repugna-me qualquer trabalho material só posso agir satisfeito no terreno das teorias, dos textos, do raciocínio puro, dos subjetivismos. Sou um jogador de xadrez nunca pude, por exemplo, com o bilhar ou com o futebol.

• Antes que os anos 30 terminem, ele participa de outros dois concursos literários. Em 1936, a coletânea de poemas Magma recebe o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras. Um ano depois, sob o pseudônimo de "Viator", concorre ao prêmio HUMBERTO DE CAMPOS, com o volume intitulado Contos, que em 46, após uma revisão do autor, se transformaria em Sagarana, obra que lhe rendeu vários prêmios e o reconhecimento como um dos mais importantes livros surgidos no Brasil contemporâneo. Os contos de Sagarana apresentam a paisagem mineira em toda a sua beleza selvagem, a vida das fazendas, dos vaqueiros e criadores de gado, mundo que Rosa habitara em sua infância e adolescência. Neste livro, o autor já transpõe a linguagem rica e pitoresca do povo, registra regionalismos, muitos deles jamais escritos na literatura brasileira.

• Em 1938, Guimarães Rosa é nomeado Cônsul Adjunto em Hamburgo, e segue para a Europa; lá fica conhecendo Aracy Moebius de Carvalho (Ara), que viria a ser sua segunda mulher. Durante a guerra, por várias vezes escapou da morte; ao voltar para casa, uma noite, só encontrou escombros. A superstição e o misticismo acompanhariam o escritor por toda a vida. Ele acreditava na força da lua, respeitava curandeiros, feiticeiros, a umbanda, a quimbanda e o kardecismo. Dizia que pessoas, casas e cidades possuíam fluidos positivos e negativos, que influíam nas emoções, nos sentimentos e na saúde de seres humanos e animais. Aconselhava os filhos a terem cautela e a fugirem de qualquer pessoa ou lugar que lhes causasse algum tipo de mal estar.

• Embora consciente dos perigos que enfrentava, protegeu e facilitou a fuga de judeus perseguidos pelo Nazismo; nessa empresa, contou com a ajuda da mulher, D. Aracy. Em reconhecimento a essa atitude, o diplomata e sua mulher foram homenageados em Israel, em abril de 1985, com a mais alta distinção que os judeus prestam a estrangeiros: o nome do casal foi dado a um bosque que fica ao longo das encostas que dão acesso a Jerusalém.

• Foi a forma encontrada pelo governo israelense para expressar sua gratidão àqueles que se arriscaram para salvar judeus perseguidos pelo Nazismo por ocasião da 2ª Guerra Mundial. Segundo D. Aracy, que compareceu a Israel por ocasião da homenagem, seu marido sempre se absteve de comentar o assunto já que tinha muito pudor de falar de si mesmo. Apenas dizia: "Se eu não lhes der o visto, vão acabar morrendo; e aí vou ter um peso em minha consciência."

• Em 1942, quando o Brasil rompe com a Alemanha, Guimarães Rosa é internado em Baden-Baden, juntamente com outros compatriotas, entre os quais se encontrava o pintor pernambucano Cícero Dias, Ficam retidos durante 4 meses e são libertados em troca de diplomatas alemães. Retornando ao Brasil, após rápida passagem pelo Rio de Janeiro, o escritor segue para Bogotá, como Secretário da Embaixada, lá permanecendo até 1944. Sua estada na capital colombiana, fundada em 1538 e situada a uma altitude de 2.600 m, inspirou-lhe o conto Páramo, de cunho autobiográfico, que faz parte do livro póstumo Estas Estórias. O conto se refere à experiência de "morte parcial" vivida pelo protagonista (provavelmente o próprio autor), experiência essa induzida pela solidão, pela saudade dos seus, pelo frio, pela umidade e particularmente pela asfixia resultante da rarefação do ar (soroche – o mal das alturas).

• Em dezembro de 1945 o escritor retornou ao Brasil depois de longa ausência. Dirigiu-se, inicialmente, à Fazenda Três Barras, em Paraopeba, berço da família Guimarães, então pertencente a seu amigo Dr. Pedro Barbosa e, depois, a cavalo, rumou para Cordisburgo, onde se hospedou no tradicional Argentina Hotel, mais conhecido por Hotel da Nhatina.
• Em 1946, Guimarães Rosa é nomeado chefe-de-gabinete do ministro João Neves da Fontoura e vai a Paris como membro da delegação à Conferência de Paz.
• Em 1948, o escritor está novamente em Bogotá como Secretário-Geral da delegação brasileira à IX Conferência Inter-Americana; durante a realização do evento ocorre o assassinato político do prestigioso líder popular Jorge Eliécer Gaitán, fundador do partido Unión Nacional Izquierdista Revolucionaria, de curta mas decisiva duração.

• De 1948 a 1950, o escritor encontra-se de novo em Paris, respectivamente como 1º Secretário e Conselheiro da Embaixada. Em 1951 é novamente nomeado Chefe de Gabinete de João Neves da Fontoura. Em 1953 torna-se Chefe da Divisão de Orçamento e em 1958 é promovido a Ministro de Primeira Classe (cargo correspondente a Embaixador).

• Guimarães Rosa retorna ao Brasil em 1951. No ano seguinte, faz uma excursão ao Mato Grosso. O resultado é uma reportagem poética: Com o vaqueiro Mariano. Segundo depoimento do próprio Manuel Narde, vulgo Manuelzão, falecido em 5 de maio de 1997, protagonista da novela Uma estória de amor, incluída no volume Manuelzão e Miguilim, durante os dias que passou no sertão, Guimarães Rosa pedia notícia de tudo e tudo anotava "ele perguntava mais que padre" –, tendo consumido "mais de 50 cadernos de espiral, daqueles grandes", com anotações sobre a flora, a fauna e a gente sertaneja usos, costumes, crenças, linguagem, superstições, versos, anedotas, canções, casos, estórias...

• Em ensaio crítico sobre Corpo de Baile, o professor Ivan Teixeira afirma que o livro talvez seja o mais enigmático da literatura brasileira. As novelas que o compõem formam um sofisticado conjunto de logogrifos, em que a charada é alçada à condição de revelação poética ou experimento metafísico. Na abertura do livro, intitulada Campo Geral, Guimarães Rosa se detém na investigação da intimidade de uma família isolada no sertão, destacando-se a figura do menino Miguelim e o seu desajuste em relação ao grupo familiar. Campo Geral surge como uma fábula do despertar do autoconhecimento e da apreensão do mundo exterior; e o conjunto das novelas surge como passeio cósmico pela geografia rosiana, que retoma a idéia básica de toda a obra do escritor: o universo está no sertão, e os homens são influenciados pelos astros.

• Em 1956, no mês de janeiro, reaparece no mercado editorial com as novelas Corpo de Baile, onde continua a experiência iniciada em Sagarana. A partir de o Corpo de Baile, a obra de Rosa - autor reconhecido como o criador de uma das vertentes da moderna linha de ficção do regionalismo brasileiro - adquire dimensões universalistas, cuja cristalização artística é atingida em Grande Sertão: Veredas, lançado em maio de 56. O terceiro livro de Guimarães Rosa, uma narrativa épica que se estende por 600 páginas, focaliza numa nova dimensão, o ambiente e a gente rude do sertão mineiro. Grande Sertão: Veredas reflete um autor de extraordinária capacidade de transmissão do seu mundo, e foi resultado de um período de dois anos de gestação e parto. A história do amor proibido de Riobaldo, o narrador, por Diadorim é o centro da narrativa. Para Renard Perez, autor de um ensaio sobre Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, além da técnica e da linguagem surpreendentes, deve-se destacar o poder de criação do romancista, e sua aguda análise dos conflitos psicológicos presentes na história.

• O lançamento de Grande Sertão: Veredas causa grande impacto no cenário literário brasileiro. O livro é traduzido para diversas línguas e seu sucesso deve-se, sobretudo, às inovações formais. Crítica e público dividem-se entre louvores apaixonados e ataques ferozes. Torna-se um sucesso comercial, além de receber três prêmios nacionais: o Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro; o Carmen Dolores Barbosa, de São Paulo; e o Paula Brito, do Rio de Janeiro. A publicação faz com que Guimarães Rosa seja considerado uma figura singular no panorama da literatura moderna, tornando-se um "caso" nacional. Ele encabeça a lista tríplice, composta ainda por Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto, como os melhores romancistas da terceira geração modernista brasileira.

• Em abril de 1967, Guimarães Rosa vai ao México na qualidade de representante do Brasil no I Congresso Latino-Americano de Escritores, no qual atua como vice-presidente. Na volta é convidado a fazer parte, juntamente com Jorge Amado e Antônio Olinto, do júri do II Concurso Nacional de Romance Walmap que, pelo valor material do prêmio, é o mais importante do país.
• No meio do ano, publica seu último livro, também uma coletânea de contos, Tutaméia. Nova efervescência no meio literário, novo êxito de público. Tutaméia, obra aparentemente hermética, divide a crítica. Uns vêem o livro como "a bomba atômica da literatura brasileira"; outros consideram que em suas páginas encontra-se a "chave estilística da obra de Guimarães Rosa, um resumo didático de sua criação".

• Três dias antes da morte o autor decidiu, depois de quatro anos de adiamento, assumir a cadeira na Academia Brasileira de Letras. Os quatro anos de adiamento eram reflexo do medo que sentia da emoção que o momento lhe causaria. Ainda que risse do pressentimento, afirmou no discurso de posse: "...a gente morre é para provar que viveu."
• O escritor faz seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras com a voz embargada. Parece pressentir que algo de mal lhe aconteceria. Com efeito, três dias após a posse, em 19 de novembro de1967, ele morreria subitamente em seu apartamento em Copacabana, sozinho (a esposa fora à missa), mal tendo tempo de chamar por socorro.

• Em 1967, João Guimarães Rosa seria indicado para o prêmio Nobel de Literatura. A indicação, iniciativa dos seus editores alemães, franceses e italianos, foi barrada pela morte do escritor. A obra do brasileiro havia alcançado esferas talvez até hoje desconhecidas. Quando morreu tinha 59 anos. Tinha-se dedicado à medicina, à diplomacia, e, fundamentalmente às suas crenças, descritas em sua obra literária. Fenômeno da literatura brasileira, Rosa começou a escrever aos 38 anos. O autor, com seus experimentos lingüísticos, sua técnica, seu mundo ficcional, renovou o romance brasileiro, concedendo-lhe caminhos até então inéditos. Sua obra se impôs não apenas no Brasil, mas alcançou o mundo.
Sagarana – João Guimarães Rosa (1946)
SAGA + RANA= à moda de, à maneira de lenda

As nove novelas (ou contos ou “causos”) são:
• 1- O Burrinho Pedrês
• 2- A Volta do Marido Pródigo
• 3- Sarapalha
• 4- Duelo
• 5- Minha Gente
• 6- São Marcos
• 7- Corpo Fechado
• 8- Conversa de Bois
• 9- A Hora e a Vez de Augusto Matraga
Quanto aos narradores
• Contos narrados em terceira pessoa(narrador-observador e onisciente):O Burrinho Pedrês,A Volta do Marido Pródigo,Sarapalha,
Duelo,Conversa de Bois, A Hora e a Vez de Augusto Matraga
• Contos narrados em primeira pessoa(narrador-personagem):Minha Gente, São Marcos,Corpo Fechado
Marca do processo narrativo dos contos de Sagarana
• Uso do discurso indireto livre: consiste na mistura da fala do narrador com o pensamento do personagem.O narrador tem completa adesão pelo personagem.
• Exemplo:
• “Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se enquadrar para o alto, a salvar também de fora o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas. Chu-aá!Chu-aá...ruge o rio, como chuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda;e depois o pasto:sombra,capim e sossego...Nenhuma pressa(...)”

Tema constante:
• A travessia, a viagem, a busca, a descoberta, o desejo de mudança interior, encontros e desencontros revestidos de uma certa “aura mágica”, sendo que o sertão é o centro irradiador de todas as narrativas.Temos reflexões de natureza filosófica, o que nos leva a comprovar o caráter universalista dos textos.
Personagens
• São, de modo geral, seres em travessia: bichos, crianças, homens rudes e simples, vaqueiros, peões, valentões.
• São “ seres em disponibilidade”, propensos ao sonho, ao devaneio e à aventura e ao aprendizado da vida.
Espaço


• Sertão mineiro: o sertão das “Gerais”(Minas Gerais), arraiais, povoados, vilas distantes, esquecidas de tudo e de todos
Tempo


• Tempos não medidos pelo relógio, mistura de passado/presente, tornando-se narrativas encantadas( fábulas)
Linguagem
• A linguagem de Guimarães Rosa tem um grande intuito: retratar a oralidade do sertanejo mineiro. Para cumprir seu propósito, ele reinventa a linguagem, criando neologismos, trabalhando recursos poéticos(aliteração, onomatopéias, etc), utiliza provérbios, enfim, cria um novo mundo de linguagem.
Exemplos de inovações lingüísticas
• Inovações fonológicas(som)
• Ex:“Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando...” (Temos aliteração e onomatopéia)
• Inovações morfológicas
(construção de palavras)
• Ex: amormeuzinho,nomopadrofilhospritossantaméin, desfeliz, etc

Temos ainda:
• Inovações sintáticas, que dizem respeito ao arranjo das palavras nas frases e períodos
• Inovações semânticas, que se referem ao significado das palavras
Presença de arcaísmos(palavras que caíram em desuso)


§ Exemplos: em riba(em cima), de banda (de lado), a lembrar, arresolver, alumiar
1- O Burrinho Pedrês
• Personagens: Sete de Ouros(o burrinho), Major Saulo(dono do burrinho), João Manico, Francolim e Badu(peões)
• Síntese: os peões e o Sete de Ouros têm a missão de levar mais de 400 bois para um arraial vizinho.Na volta, na cheia do rio, Sete de Ouros salva Badu e Francolim
• Interpretação:a sabedoria do burrinho faz com que ele consiga atravessar o rio e fazer o bem, salvando 2 peões
2-A Volta do Marido Pródigo
• Personagens:Lalino Salãthiel(mulato esperto que quer conhecer novos lugares e novas pessoas), Seu Ramiro(patrão de Lalino) empresta-lhe dinheiro para conhecer o Rio de Janeiro),Maria Rita(esposa de Lalino), Oscar(simpatiza com Lalino, é uma espécie de amigo)
(continuação de A Volta do Marido Pródigo)
• Síntese: Lalino é um mulatinho esperto que tem sede de aventura. Empresta dinheiro do patrão, seu Ramiro, para ir se aventurar no Rio, abandonando a esposa Maria Rita.Entra numa grande farra no Rio, cansa-se e resolve voltar.Encontra a esposa vivendo com seu Ramiro e decide que irá reconquistá-la, cumprindo a promessa.
(continuação de A Volta do Marido Pródigo)
• Interpretação: Lalino é um personagem que dialoga com Leonardinho e Macunaíma. Todos são anti-heróis. Através de suas estratégias e com ajuda do destino reconquista Maria Rita. É um exemplo de heroísmo às avessas.
• (Intertextualidade com Memórias de um Sargento de Milícias e Macunaíma)
3.Sarapalha


• Personagens: primo Ribeiro e primo Argemiro, ambos estão doentes. Sofrem de maleita, Luísa (moça da estória)
(continuação de Sarapalha)
• Síntese: Primo Ribeiro e primo Argemiro sofrem com as febres da doença. Nos seus delírios, começam a recordar uma estória triste: Luísa, esposa de Ribeiro, abandona-o, fugindo com um boiadeiro.Argemiro se emociona e confessa a Ribeiro que também era apaixonado por Luísa , mas sempre a respeitou. Ribeiro não se conforma com a confissão e expulsa Argemiro da fazenda.Ribeiro morre e Argemiro vai embora, ardendo em febre, acompanhado de um cachorro e com as lembranças de Luisinha.
Sarapalha
• Interpretação: o ritmo da narrativa é extremamente lento, temos a nítida sensação de isolamento. No confronto passado/presente, Ribeiro acha que Argemiro é o demo e o manda embora.Argemiro, que fora sincero, acha que seria compreendido por Ribeiro e acaba sendo punido por falar a verdade.
4. Duelo

• Personagens: Turíbio Todo(vaqueiro de profissão, é considerado um “homem mau”), Cassiano Gomes (ex-oficial da Força Pública e amante da esposa de Turíbio), esposa de Turíbio
(continuação de Duelo)
• Síntese: Turíbio Todo é conhecido como um homem violento e vingativo. Descobre que a esposa, dona Silivana, o estava traindo com Cassiano Gomes, mas finge não saber de nada e elabora um plano de vingança. Numa emboscada, Turíbio mata o irmão de Cassiano que nada tinha a ver com a vingança. Agora, quem quer se vingar é Cassiano.
(continuação de Duelo)
• (continuação da síntese)
• Turíbio e Cassiano duelam durante meses e acabam desistindo. Cassiano resolve visitar o lugar onde nascera e pressentia sua própria morte para logo. Não consegue chegar e recebe, na viagem, a ajuda de Timpim Vinte-e-Um, para quem conta toda a estória. Cassiano morre.
• Turíbio acha que tudo estava resolvido quando, para seu espanto, Timpim vem honrar a vingança de Cassiano e mata Turíbio.
(continuação de Duelo)
• Interpretação: A mensagem é a inversão de papéis, ou seja,Cassiano, de perseguido, passa a perseguidor e Timpim, que era um simples capiau(caboclo), tranforma-se em agente do bem, punindo Turíbio, que, ao que parece, só tinha razão no início da estória.
5. Minha Gente

• Personagens: narrador-personagem (cujo nome não sabemos), Tio Emílio( tio da narrador-personagem), Maria Irma (filha de tio Emílio), Santana (empregado do tio Emílio)
(continuação de Minha Gente)
• Síntese: O narrador-personagem vai visitar o tio Emílio e se entrega a uma série de recordações. Apaixona-se por Maria Irma que fica dizendo que ora está apaixonada e ora não está mais.
• O narrador-personagem conhece Armanda, filha de um fazendeiro vizinho, apaixona-se por ela e com ela se casa, descobrindo, assim, seu verdadeiro amor.
(continuação de Minha Gente)
• Interpretação: toda a estória e a trama são desenvolvidas como uma partida de xadrez(jogo predileto do narrador-personagem e do capiau Santana).Depois de vários “xeque-mates”, o narrador-personagem encontra a felicidade e o verdadeiro amor.
6. São Marcos
• Personagens: José (ou Izé, narrador de várias estórias, que não acredita em feitiços e acaba sendo vítima de um feitiço de João Mangolô),Sá Nhá Rita Preta e Aurísio Manquitola (amigos de José) e João Mangolô (negro feiticeiro)
(continuação de São Marcos)
• Síntese: José é um homem de muitas histórias e sempre disse que não acreditava em feitiços.Seus amigos lhe diziam para que não brincasse com o feiticeiro João Mangolô e não invocasse a Oração de São Marcos. Nos seus passeios de domingo, José provoca o feiticeiro e acaba ficando cego.Desesperado, José acaba usando a reza brava de São Marcos.
(continuação de São Marcos)
• José acaba indo parar na casa de Mangolô, a quem queria matar com fúria.
• O feiticeiro, no entanto, pede-lhe que não faça mal a ele,desfaz o feitiço e od dois “fazem as pazes”
São Marcos
• Interpretação: trata-se de um conto metalingüístico, uma vez que José responde às quadrinhas escritas com canivete no bambual. José e Mangolô, nos seus versos, discutem os princípios da criação poética.
• José fazia pouco caso dos feiticeiros e das crendices e precisou de ambos para voltar a enxergar.
7. Corpo Fechado
• Personagens: o narrador-personagem é um médico que está morando no arraial da Laginha, Manuel Fulô(protagonista), Targino (um valentão do arraial) e Maria-das-Dores(jovem por quem Fulô se apaixona).
(Continuação de Corpo Fechado)
• Síntese: Manuel Fulô contou muitas histórias para o narrador-personagem que vai recontando para nós, leitores, tais histórias. Manuel Fulô se apaixona por Das-Dores e fica noivo dela, mas é afrontado por Targino, valentão do lugar, que diz que vai dormir com ele e depois a devolveria. Fulô conta com a ajuda do curandeiro Antonico das Pedras ou Antonico das Águas que faz Fulô ter corpo fechado, enfrentando Targino.
(continuação de Corpo Fechado)


• Interpretação: a cumplicidade com a feitiçaria, adquirindo “corpo fechado” leva Manuel Fulô a ficar corajoso e enfrentar Targino. É como se Fulô conseguisse vencer o Demo.
8. Conversa de Bois

• Personagens: Manuel Timborna(narrador-observador que conta sobre os bois), seu interlocutor ( alguém que escuta Timborna), mais um narrador ( uma irara chamada Risoleta, que é uma ave), Agenor Soronho (condutor do carro de bois) e Tiãozinho (ajudante de Agenor)
(continuação de Conversa de Bois)
• Síntese: um carro de bois com 4 parelhas é conduzido por Agenor e seu guia, o moleque Tiãozinho. O carro leva um defunto que é o pai de Tiãozinho.
• Os bois conversam e contam estórias tristes. Tiãozinho é também um menino muito triste e maltratado por Agenor.
• Os bois se cansam de Agenor e chacoalham o carro até ele cair e “desencarnar”. Tiãozinho continua a condução do carro de bois, carregando, agora, dois defuntos.
(Continuação de Conversa de Bois)
• Interpretação: de novo, o fraco vence o forte, o bem vence o mal, num caso em que a irara conta a história a Manuel Timborna, que a reconta ao escritor, que a repassa a nós. O carro de bois, assim, como Tiãozinho, também cumpre uma travessia.
Conversa de Bois- estrutura dos narradores
9.A Hora e a Vez de Augusto Matraga


• Personagens: Nhô Augusto( homem perverso), Dona Dionóra( sua esposa), Mimita( filha de dona Dionóra), Joãozinho Bem-Bem (líder de um bando de capangas)
(Continuação de A Hora e a Vez de Augusto Matraga)
• Síntese: Nhô Augusto Matraga é abandonado pela esposa e pela filha porque ninguém suporta viver com ele.
• Além disso, seus empregados o abandonam também provocados pelo Major Consilva. Augusto vai tirar satisfações e é atacado pelos antigos capangas que chegam a marcá-lo com o ferro do gado.
(Continuação A Hora e a Vez...)
• Matraga é encontrado por um casal negro que cuida dele e o adota.
• Matraga resolve se redimir e virar uma boa pessoa. O chefe de um bando de jagunços, Joãozinho Bem-Bem, tenta convencer Matraga a se reunir ao seu grupo, mas ele se lembra das sábias palavras de um padre que lhe disse que ele precisava ser bom: “Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua”
(Continuação de A Hora e a Vez...)

• Depois de algum tempo, Augusto Matraga reencontra Joãozinho Bem-Bem e seu bando lutando. Joãozinho morre e a hora e a vez de Augusto Matraga também chegam.
(Continuação A Hora e a Vez...)

• Interpretação: equívoco, destino, acaso ou fatalidade – as travessias se encerram com a de Nhô Augusto que, de homem mal foi à redenção, e só encontra refúgio do bem e do mal na morte.

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