segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

2º Colegial - CECI 2009- Realismo em Portugal

O Realismo e o Naturalismo em Portugal

Professora Danielle Medici

“Apaixonada ‘como nunca’ pelo marido, ela transforma-se em criada, a mando de Juliana, até Jorge pegá-la em flagrante e demitir a empregada. Luísa, depois de rezar, jogar na loteria, e até mesmo de tentar se entregar a um banqueiro para conseguir o dinheiro da chantagem, conta seu segredo a Sebastião, um amigo de Jorge, que promete ajudá-la.”

REALISMO EM PORTUGAL
l Realismo na literatura
l Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época, os escritores realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua totalidade. Não bastava mostrar a face sonhadora e idealizada da vida como fizeram os românticos; era preciso mostrar a face nunca antes revelada: a do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da impotência do homem comum diante dos poderosos. Em lugar do egocentrismo romântico, verifica-se um enorme interesse de descrever, analisar e até em criticar a realidade. A visão subjetiva e parcial da realidade é substituída pela visão que procura ser objetiva, fiel, sem distorções. Em lugar de fugir à realidade, os realistas procuram apontar falhas como forma de estimular a mudança das instituições e dos comportamentos humanos. Em lugar de heróis, surgem pessoas comuns, cheias de problemas e limitações. Na Europa,o realismo teve início com a publicação do romance realista Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert.
REALISMO EM PORTUGAL
l Contexto Histórico
- 1865: progresso e desenvolvimento;
- Substituição de sua cultura clérico-aristocrática por uma cultura laica, burguesa, tendo como público a massa alfabetizada;
- Estagnação a partir de 1891, crise dos setores avançados “Geração de 70”.
REALISMO EM PORTUGAL
l QUESTÃO COIMBRÃ E AS CONFERÊNCIAS DO CASSINO LISBONENSE – 1865
- Polêmica que se estabeleceu entre os românticos, defensores do status quo literário, e os jovens revolucionários de Coimbra, dentre os quais se destacaram Antero de Quental,Teófilo Braga e Eça de Queirós;
- “Cenáculo”;
- 1875 “O crime do padre Amaro” – Eça de Queirós;
REALISMO EM PORTUGAL
l Eça de Queirós é apontado como o autor que introduz este movimento no país, sendo o romance social, psicológico e de tese a principal forma de expressão. Deixa de ser apenas distração e torna-se meio de crítica a instituições, à hipocrisia burguesa (avareza, inveja, usura), à vida urbana (tensões sociais, econômicas, políticas) à religião e à sociedade, interessando-se pela análise social, pela representação da realidade circundante, do sofrimento, da corrupção e do vício. A escravatura, o racismo e a sexualidade são retratados com uma linguagem clara e direta.
REALISMO EM PORTUGAL
l Vida e obra de Eça de Queirós
l Embora haja uma evolução na sua obra, a etapa mais interessante de Eça de Queirós é a realista (O primo Basílio). Com Antero de Quental e Teófilo Braga é um dos representantes do Realismo português.
l Está implicado em questões socio-políticas e literárias, participa em iniciativas ligadas ao Realismo, como é o caso de:
l As Conferências do Casino: nas que se debate sobre a realidade portuguesa e europeia e sobre literatura. O seu objectivo é a difusão do Realismo.
l Questão Coimbrã: assume em certo sentido o debate entre românticos e realistas.
l Da sua atividade profissional destaca:
l Está ligado à advocacia.
l Está muito ligado ao jornalismo:
l Os seus artigos recolhem-se no livro Prosas bárbaras.
l Co-dirige e colabora na publicação periódica As Farpas.
l Funda e dirige a Revista de Portugal.
l Leva a cabo atividades diplomáticas (viaja muito, o que se reflexa na sua obra):
l Trabalha em Leiria, onde teria escrito O crime do Padre Amaro (ambientada em Leiria na segunda metade do século XIX).
l É colocado no consulado português da Havana.
l Posteriormente irá para Inglaterra:
¡ Começaria ali O primo Basílio e outros projectos.
¡ Envia colaborações a jornais portugueses e brasileiros.
l Participa no consulado português na França, desde onde publica algumas das suas obras.
REALISMO EM PORTUGAL
l Evolução
¡ Fase realista, a mais importante:
l Está influenciado por Balzac, Zola e Flaubert, em especial pelos dois últimos. Eça também é crítico literário, pelo que conhece muito bem os realistas franceses e ingleses.
l Busca reflectir a realidade objetivamente, ao detalhe, de jeito impessoal.
l Há uma crítica a Portugal associada à necessidade de “europeizar” Portugal.
l A esta etapa pertencem as suas obras principais:
¡ Uma campanha alegre (1871)
¡ O crime do Padre Amaro (1875 – 1876)
¡ O primo Basílio (1878)
¡ O mandarim (1880)
¡ A relíquia (1887)
¡ Os maias (1888)
Fase social-nacionalista: Eça está decepcionado já que não conseguiu o seu objetivo e troca a sua atitude, agora quer salvar a Portugal baseando-se nas suas raízes e buscando aí um presente e um futuro satisfatórios. Não temos de esquecer que neste momento Portugal também o compõem os territórios africanos. As obras desta etapa são Últimas páginas (1912), na que defende Portugal face a Europa ridiculizando Paris, ou A cidade e as serras (1901).
Outras publicações: colaborações em jornais, obras póstumas...
REALISMO EM PORTUGAL
l O crime do Padre Amaro (1875 – 1876)
l Obra realista escrita em Leiria e pela que é acusado de ter plagiado La faute de l’Abbé Mouret de Zola, mas ainda que o título seja parecido e as duas sejam obras satíricas, a intriga é totalmente distinta. O autor retoca-a muitas vezes. As principais características desta obra são:
¡ Descreve:
l A hipocrisia do clero de províncias na 2ª metade do século XIX (celibato, preocupações materialistas...).
l A falta de palavra dos caciques políticos.
l A subserviência[1] dos comerciantes.
l A bisbilhotice[2] vingativa dos jornalistas.
l A vontade de criar escândalo.
l A piedade supersticiosa e jansenista das devotas.
¡ O comportamento das personagens está condicionado por:
¡ A hereditariedade, como é o caso de Amélia (a mãe tinha uma relação com um sacerdote e ela também).
¡ A educação.
¡ O meio (provinciano, fechado, conservador e hipócrita).
REALISMO EM PORTUGAL
l O Primo Basílio (1878)
l É um romance realista cujas principais características são:
¡ Descrição de interiores muito detalhada já que se ambienta numa casa, um espaço fechado. O ambiente determina a personalidade das personagens.
¡ Crítica à sociedade da capital, a hipocrisia da alta burguesia.
¡ Crítica à literatura romântica: Luísa está transtornada pela leitura de literatura romântica, obsessão que aproveita o seu primo Basílio, quem finge ser um galão romântico diante dela. Luísa é transvestida numa heroína romântica que acaba morrendo, feito que a Basílio lhe é indiferente.
l Os maias (1888)
l É uma das suas obras mais conhecidas. Critica a alta burguesia lisboeta (subornos, vingança, incesto, adultério....)
l Finalidade da sua obra realista
l A literatura realista de Eça de Queirós faz parte dum programa socio-político que consiste em criticar a sociedade para corrigi-la. Eça diz que a obra de arte e como um livro de anatomia: tem de analisar a sociedade como num livro de anatomia se analisa o corpo humano. Assim, critica:
¡ O clero e a sua influência nas pessoas.
¡ A média e alta burguesia lisboeta.
¡ A literatura jornalística e o jornalismo em geral.
¡ O comércio, a política, a literatura, povo...
l

REALISMO EM PORTUGAL
l - Socialismo, cientificismo, evolucionismo, positivismo, lutas antiburguesas, 2ª Rev. Industrial;
l Em 1881, com a publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, inicia-se o Realismo no Brasil.
l No Brasil: abolição, República, romance naturalista, poesia parnasiana.
l Características do Realismo:
l Objetivismo;
Descrições e adjetivações objetivas;
l Linguagem culta e direta;
l Mulher não idealizada; real. Ex.: Marcela e Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas), Sofia (Quincas Borba)...
l Amor e outros interesses subordinados aos interesses sociais;
l Herói problemático;
l Narrativa lenta, tempo psicológico;
l Personagens trabalhados psicologicamente.
REALISMO EM PORTUGAL
l DIFERENÇAS ENTRE REALISMO E NATURALISMO
l REALISMO
l - Forte influência da literatura de Gustave Flaubert (França).
l - Romance documental, apoiado na observação e na análise.
l - A investigação da sociedade e dos caracteres individuais é feita “de dentro para fora”, por meio de análise psicológica capaz de abranger sua complexidade, utilizando a ironia, que sugere e aponta, em vez de afirmar.
l - Volta-se para a psicologia, centrando-se mais no indivíduo.
l - As obras retratam e criticam as classes dominantes, a alta burguesia urbana e, normalmente, os personagens pertencem a esta classe social.
l - O tratamento imparcial e objetivo dos temas garante ao leitor um espaço de interpretação, de elaboração de suas próprias conclusões a respeito das obras.
l Naturalismo
l - Forte influência da literatura de Émile Zola (França).
l - Romance experimental, apoiado na experimentação e observação científica.
l - A investigação da sociedade e dos caracteres individuais ocorre “de fora para dentro”, os personagens tendem a se simplificar, pois são vistos como joguetes, pacientes dos fatores biológicos, históricos e sociais que determinam suas ações, pensamentos e sentimento.
l - Volta-se para a biologia e a patologia, centrando-se mais no social.
l - As obras retratam as camadas inferiores, o proletariado, os marginalizados e, normalmente, os personagens são oriundos dessas classes sociais mais baixas.
l - o tratamento dos temas com base em uma visão determinista conduz e direciona as conclusões do leitor e empobrece literariamente os textos.

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