segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

3º Colegial - Máris Célis - 2ª fase Modernista Poesia - Carlos D. de Andrade

LITERATURA
ENSINO MÉDIO
PROFESSORA DANIELLE MEDICI
2ª FASE MODERNISTA – POESIA (1930-1945)
ØDepois da fase heróica do modernismo brasileiro, que realizou a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, lutando para implantar no país as inovações das vanguardas européias, surge uma geração de poetas e romancistas das mais férteis e ricas em toda a história da literatura brasileira.
ØOs modernistas de 22 abriram o caminho para que os novos escritores pudessem criar em liberdade, livres das amarras formais do academicismo e preocupados com a realidade brasileira.
ØSurgem, assim, durante a década de 30, romancistas regionalistas, como Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado, que chamam a atenção para os problemas sociais das regiões mais carentes do Brasil, utilizando-se da linguagem coloquial e crítica herdada dos primeiros modernistas. Já os poetas não se pautam mais por uma atitude programática, e sim pela possibilidade de criação em todas as direções, utilizando tanto o verso livre, o "poema-piada" e as ousadias da geração de 22, quanto as formas fixas, como o soneto, a metrificação e as rimas da poesia mais tradicional.

POESIA – 2ª FASE MODERNISTA
Ø Alguns dos poetas surgidos na década de 30 viveram de perto a movimentação revolucionária de 1922. Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes publicaram poemas no maior órgão de divulgação das idéias vanguardistas, a Revista de Antropofagia (1928-29), de Oswald de Andrade e Antônio de Alcântara Machado. Participam, portanto, ainda que como coadjuvantes, da fase heróica do modernismo.
Ø O poema No meio do caminho, de Drummond, haveria de se converter no maior símbolo deste momento de ruptura com a literatura passadista.
Ø Outros carregam uma herança indisfarçável do simbolismo, como Cecília Meireles; do romantismo, como Vinicius de Moraes e Augusto Frederico Schmidt; ou mesmo da poesia parnasiana, como Jorge de Lima.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o Nasceu em Itabira, Minas gerais (1902), e morreu no Rio de janeiro (1987). Em 1925, formou-se em Farmácia, mas, sem interesse pela profissão, lecionou Geografia e Português, dedicando-se também a vida inteira ao jornalismo. Em 1928, ingressou no funcionalismo público, tendo exercido, ente outros cargos a chefia de gabinete do ministro da Educação Gustavo Capanema.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Características de suas obras:
o Íntima ligação com seu próprio tempo;
o Humor irônico e antilirismo (influências modernistas presentes em suas primeiras obras);
o Liberdade estética – tudo era permitido, todo caminho era válido.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
NO MEIO DO CAMINHO
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o 1ª FASE: 1930
Ø Livro Alguma Poesia:colocação do poeta em um primeiro plano, autocentralização poética.
Ø Esta primeira fase de sua obra é marcada por poemas irônicos, breves e coloquiais, como Quadrilha, Cota Zero, Cidadezinha Qualquer ou No meio do caminho, em que a vinculação ao primeiro momento do modernismo brasileiro é patente.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Poema de Sete Faces

Quando nasci um anjo torto
desses que vive na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
Que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
Não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de peras:
Pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o 2ª FASE – 1940
Ø Livro: Sentimento do mundo
Ø Sua poesia parece tomar consciência do mundo ao seu redor, preocupando-se em refletir sobre os acontecimentos (Guerra e Ditadura),o poeta praticou uma poesia de engajamento político, na qual a esperança parecia querer compensar o pessimismo que o momento histórico impunha.
Ø A linguagem assumida agora pelo poeta tentava ser mais comunicativa, direta, clara, coerente com a tentativa de tornar sua obra uma tradução das dores dos homens comuns.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
José



E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Ø Livro: A Rosa do Povo
Ø O poeta queria dotar sua poesia da capacidade de apontar caminhos que solucionassem os dilemas mundiais e nacionais. A poesia, parecia assim, ser a resposta para os males do universo.
Ø Outras características da produção de 40: as referências históricas, a politização, a poesia como resistência, a esperança e o pessimismo.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Flor e a Náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me. Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me? Olhos sujos no relógio: não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo ainda é de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse. Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos. O sol consola os doentes e não os renova. As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase. Vomitar esse tédio sobre a cidade. Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado. Nenhuma conta escrita nem recebida. Todos os homens voltam para casa. Estão menos livres, mas levam jornais e soletram o mundo sabendo que o perdem. Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi. Alguns ache belos, foram publicados. Crimes suaves, que ajudam a viver. Ração diária do erro, distribuída em casa. Os ferozes padeiros do mal. Os ferozes leiteiros do mal.
Por fogo em tudo, inclusive em mim. Ao menino de 1918 chamavam anarquista. Porém meu ódio é o melhor de mim. Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima. Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor. Sento no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura. Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico. É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o 3ª FASE – 1950
Ø A poesia de Drummond abandona a tonalidade esperançosa, tornando-se amarga e definitivamente pessimista;
Ø O poeta voltou-se para si mesmo, produzindo uma obra de reflexão, hermética e difícil (deixavam perguntas e não mais respostas);
Ø Toda sua crença nas ideologias de esquerda terminam agora, dando lugar ao desencanto, à desesperança, ao desânimo;
Ø Soneto.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Remissão Tua memória, pasto de poesia, tua poesia, pasto dos vulgares, vão se engastando numa coisa fria a que tu chamas: vida, e seus pesares. Mas, pesares de quê? perguntaria, se esse travo de angústia nos cantares, se o que dorme na base da elegia vai correndo e secando pelos ares, e nada resta, mesmo, do que escreves e te forçou ao exílio das palavras, senão contentamento de escrever, enquanto o tempo, em suas formas breves ou longas, que sutil interpretavas, se evapora no fundo do teu ser?
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o 4ª Fase: 1962 ( Livro Lição de Coisas):
Ø Aproximação com as vanguardas estéticas da época- Poesia Concreta.
Ø Retomada de alguns elementos fundamentais dos períodos anteriores: a ironia, o humor, a perspectiva política, o fundo filosofante, o desespero diante do impasse da existência humana;
Ø Economia da linguagem e maneira criativa e fluente (maturidade).
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Amar-amaro
porque amou por que amou
se sabia
proibido passear sentimentos
ternos ou desesperados
nesse museu do pardo indiferente
me diga: mas por que
amar sofrer talvez como se morre
de varíola voluntária vágula evidente?


ah PORQUE AMOU
e se queimou
todo por dentro por fora nos cantos ecos
lúgubres de você mesm(o,a)
irm(ã,ão) retrato espetáculo por que amou?
se era par
ou era por
como se entretanto todavia
toda via mas toda vida
é indignação do achado e aguda espostejação
da carne do conhecimento, ora veja
permita cavalheir(o,a)
amig(o,a) me releve
este malestar
cantarino escarninho piedoso
este querer consolar sem muita convicção
o que é inconsolável de ofício
a morte é esconsolável consolatrix
consoadíssima
a vida também
tudo também
mas o amor car(o,a) colega este não
consola nunca de núncaras.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o A partir de 1960, Drummond vale-se de uma característica que ia acompanhar-lhe até o final da vida; o erotismo.
o Obras-primas:
Ø Brejo das almas (1934)
Ø Sentimento do Mundo (1940)
Ø A rosa do povo (1945)
Ø Fazendeiro do ar (1954)
Ø Boitem=po (1968)
Ø As impurezas do branco (1973)
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
o Antologia Poética (1962)
Ø Antologia Poética, de Carlos Drummond de Andrade, traz uma coletânea de poesias organizada, na década de 1960, pelo próprio Drummond. O livro é o espelho fiel de seu trabalho, atestando sua crença fervorosa "na beleza da palavra e no texto elaborado com arte".Ao organizar a sua Antologia poética, Drummond optou por apresentá-la em certos núcleos temáticos, que seriam, segundo suas próprias palavras, certas características, preocupações ou tendência que a condicionam ou definem em conjunto. A Antologia lhe pareceu assim mais vertebrada e, por outro lado, espelho mais fiel.Drummond não teve em mira, propriamente, selecionar poemas pela qualidade, nem pelas fases que acaso se observem em sua carreira poética. Encontramos assim, como pontos de partida ou matéria de poesia:1 - O Indivíduo: O eterno conflito entre o eu e o social.2 - A terra natal: Itabira saudades e vivências.3 - A família: Itabira e vivências íntimas do menino.4 - Amigos: Homenagem aos amigos reais ou intelectuais.5 - O choque social: A violência humana.6 - O conhecimento amoroso: O amor altruísta (como só ele poderia existir).7 - A própria poesia: metalinguagem.8 - Exercícios lúdicos: A conseqüência do amar e desamar.9 - Uma visão, ou tentativa de, a existência: O estar no mundo.

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